‘Se tiver de haver greve, claro que vou fazer’, afirma novo presidente do Sindicato dos Rodoviários da RMR

A nova gestão do Sindicato dos Rodoviários da Região Metropolitana do Recife (Sintro-PE), com Roberto Carlos Torres como presidente, teve início no último dia 1º. Em entrevista ao LeiaJá, Torres contou dos principais objetivos para o primeiro ano de gestão, que esse ano passa a ser quadrienal. 

Entre os principais tópicos abordados, Roberto Carlos precisará debater o dissídio do novo acordo coletivo, a partir de julho, com a categoria, além de negociar os trâmites do plano de saúde, promessa deixada pelo patronato no acordo do ano passado. Mas mesmo com grandes expectativas ao seu redor, ele afirma que não tem medo de ser criticado, e diz não temer assumir as responsabilidades de uma greve.

“Na hora que tiver que ir para cima, para buscar os interesses da categoria, se tiver que haver movimento paredista, se tiver que fazer o protesto na porta de garagem, seja lá o que for, em defesa da categoria, claro que eu vou fazer”, declarou. 

Rodoviário há trinta anos, Roberto entrou na vida sindical quando se candidatou pela primeira vez para a presidência do órgão, há 15 anos. Ele perdeu para Patrício Magalhães, e seguiu tentando desde então. No ínterim, fundou e presidiu a Associação de Benefício Independente dos Rodoviários de Pernambuco (Abirpe), que sempre fez oposição às gestões do Sintro, passando por Benilson Custódio e Aldo Lima. 

Além de querer debater dissídio, plano de saúde, entre outros direitos, Torres quer reestruturar o sindicato, a começar pela sede, localizada no bairro de Santo Amaro, no centro do Recife. Uma de suas grandes surpresas foi encontrar uma dívida milionária no caixa da instituição.

“Eu peguei um sindicato quebrado, devendo em torno de R$ 500 mil. (…) coisa que eu não imaginava. De quem é responsabilidade, minha, que entrei agora com dez dias, ou da [gestão] anterior?”, questionou ainda.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Confira a entrevista completa com Roberto Carlos Torres. 

LeiaJá: Em 2025, um dos objetivos é discutir o dissídio, mas também estava dentro da cláusula do acordo anterior era a discussão do plano de saúde. Como o senhor pensa que vai ser debatido, tanto dentro da categoria, quanto com o patronato, a questão do plano de saúde? 

Roberto Carlos: Para começo de história, nós somos um único estado onde o rodoviário, ou seja, o motorista, a turma da limpeza, manutenção, que não tem plano de saúde pago pela empresa. A gente tem um plano de saúde hoje que se tornou um plano individual, ou seja, um valor exorbitante. Porque nós temos um problema sério, enquanto os outros estados têm essa garantia, e nós aqui não. Então, esse ano é uma das metas, uma prioridade nossa, fazer com que o trabalhador rodoviário tenha também essa grande possibilidade de ter um plano de saúde. Porque muitas vezes hoje nós temos uma categoria de praticamente 12.000 trabalhadores, e uma faixa de 5% no INSS. Aí, você imagina, [no transporte público] ele é psicólogo, ele é promotor, juiz, enfim. É um estresse, e quando chega na hora de ter o que ele precisa para se cuidar, ele agora vai para uma fila do SUS, a gente sabe o que que acontece lá, né? Mas o objetivo maior justamente é esse de dar essa condição a categoria precisa. E a gente sabe que para os empresários se eles colocam um plano de saúde empresarial o custo para eles é bem pequeno, e ele dilui isso no Imposto de Renda. Então o governo tem que olhar também, para cobrar das empresas na hora de passar o subsídio incluir isso. Para que esse benefício possa ser estendido para a categoria, que eu sempre digo, é a que faz Pernambuco andar ou parar. 

LJ: Além do plano de saúde, há outros debates que o senhor vai tentar trazer esse ano ainda para a categoria? 

RB: A gente não vê mais a figura do cobrador. O motorista está ali sozinho para dirigir, cobrar, subir e descer cadeirante, prestar conta. Essa responsabilidade não é mais compartilhada. Enfim, tiraram cobrador e colocaram um motorista para exercer a dupla função. Já não é o primeiro ano que a gente vem falando sobre isso, que a gente vai pedir um ticket de alimentação, que hoje é um valor de R$ 400. Então, a gente quer trazer o título que foi do cobrador para o motorista, até porque ele não cobra e dirige? Tá exercendo ali a dupla função. Hoje o que eles ganham por cobrar e dirigir é um valor de R$ 180, mas que nem recebe os R$ 180, porque os empresários alegam que ele só trabalha 26 dias, por causa das folgas, né? Quatro vezes, uma vez por semana, durante aquele mês, e aí ainda desconta porque ele tem que ter utilizado para refeição, ou seja, se ele trabalha recebe se ele não trabalha não recebe. Então praticamente os R$ 180 nunca chegam no bolso dele, porque eles só pagam por 26 dias de trabalho. 

LJ: Como o senhor pretende lidar com as críticas que receberá, e que já recebe, diante de alegações de uma proximidade sua com o patronato? 

RB: A relação com qualquer pessoa tem que ser a melhor possível. A gente tem que aprender a respeitar as pessoas, embora nós estejamos de lados opostos. Mas o patronal e o sindical cada um tem seus interesses, é fato. O que eu tenho hoje pelos empresários, sempre tive, é respeito. Não tem outra conotação. Como eu disse, a gente tem que respeitar as pessoas, e trato [elas] da melhor forma possível. Mas na hora que tiver que ir para cima, para buscar os interesses da categoria, se tiver que haver movimento paredista, se tiver que fazer o protesto na porta de garagem, seja lá o que for, em defesa da categoria, claro que eu vou fazer. De acordo como manda a lei. Eu vou sempre defender o lado do trabalhador. E em relação a essas críticas, ninguém é tão bom que não seja criticado. Eu sempre critiquei, sim claro, a situação nas falhas. Assim como eu também estou preparado para ser criticado caso eu deixe a desejar. Eu acredito que a gente tem dois caminhos: a gente para e reflete, procura melhorar, ou então aceita a crítica e não vai para lugar nenhum. Eu pelo menos vou optar pela primeira opção, que é ouvir e corrigir, se eu falhar em algum momento. Eu sei que sou criticado, serei criticado, aliás. 

LJ: Em relação à sua gestão, o que deverá mudar, tanto na comunicação com o público, pelas redes sociais, quanto nas tomadas de decisões internas? 

RB: Olha eu tô na gestão há 10 dias. Eu peguei um sindicato quebrado. Quebrado, devendo em torno de R$ 500 mil. Imagine aí. Dez dias, pega uma instituição falida, coisa que eu não imaginava, e com 1.200 associados. De quem é responsabilidade, minha, que entrei agora com dez dias, ou da [gestão] anterior? Então, eu vim para consertar as coisas que estão quebradas, erradas. Inclusive, nós estamos fazendo auditoria e nós vamos apresentar para categoria. O que foi que a gestão anterior fez, lógico, dentro de uma legalidade, com um auditor fiscal, uma contadora. E depois nós vamos inclusive judicializar, porque eu não vou pagar a conta de seu ninguém, que isso fique bem claro, e ele sabe disso. 

LJ: Em relação à segurança para os motoristas dentro dos transportes, como o senhor pensa em negociar com o poder público a fiscalização mais ostensiva de policiamento nos veículos? 

RB: Anteriormente eu já tive em reuniões com a defensoria do transporte com Dr. Leonardo Caribé, na qual eu participei, na época a outra gestão também participou, a Urbana participou, a Grande Recife [Consórcio de Transporte] participou, e representante do governo. Mas não avançou. Não ficou definido absolutamente nada. Cada um teve algumas ideias que foram colocadas ali na mesa, mas parou ali. Eu tinha falado, e venho falando bastante onde eu tenho a oportunidade, de reivindicar sobre aquelas blitz. Elas são importantes porque não tem dia, não tem hora e não tem local, então às vezes você vê alguém que tá devendo à justiça, ou alguém armado. Muitas vezes havia aquela abordagem ali, daquelas blitz onde os policiais subiam, olhavam a bolsa e a cintura, normalmente. Porque esse é o papel da polícia, e não do motorista. 

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