Furtos e vandalismos: placas e monumentos históricos estão ‘desaparecendo’ em Florianópolis

O Centro de Florianópolis tem perdido silenciosamente parte de sua história. Nos últimos meses, placas e bustos que marcam figuras importantes e momentos da cidade estão desaparecendo sem alarde. As peças, muitas delas feitas de cobre e bronze, foram furtadas, deixando a população sem referências visuais e informativas sobre sua origem e história.

Pelo menos sete pontos foram registrados pela reportagem, cuja ausência foi notada primeiramente pelo servidor público Ricardo Eliezer Maas, apaixonado por arquitetura e memória urbana.

placas e monumentos históricos estão 'desaparecendo' em Florianópolis; Placa foi retirada da base de busto na rua Delminda Silveira, na Agronômica

Placa foi retirada da base de busto na rua Delminda Silveira, na Agronômica – Foto: Germano Rorato/ND

Ao caminhar pelas ruas observando prédios antigos, ele percebeu que letreiros e numerações haviam sumido. Com o tempo, notou também o desaparecimento de placas e monumentos históricos, que contavam a trajetória de personagens e locais importantes.

“O meu trabalho envolve andar pelo Centro de Florianópolis. Criei uma página nas redes sociais sobre arquitetura e comecei a notar que vários prédios antigos estavam perdendo seus letreiros e numeração. Depois, percebi que as placas de cobre, e até os bustos, estavam sumindo”, contou Maas.

Entre os locais em que a situação foi percebida pelo morador, estão praças e ruas que carregam a identidade e história de Florianópolis. “Qualquer praça que tenha placas de cobre, provavelmente já teve elas furtadas. Algumas foram substituídas pela prefeitura por placas de alumínio, mas até essas estão sendo levadas”, comentou Maas.

Apagamento histórico de placas e monumentos históricos

O historiador Rodrigo Rosa explica que a perda desses elementos não é apenas estética, mas representa o empobrecimento da memória urbana. Ele destaca que algumas dessas peças eram “verdadeiras obras de arte”, como a placa em alto-relevo da estátua do Coronel Fernando Machado.

Na praça Fernando Machado, estátua sofreu vários danos e monumento foi depredado – Foto: Germano Rorato/ND

“A figura está documentada em arquivos da Escola de Belas-Artes do Rio de Janeiro. Sem a placa, quem passa pela praça já não sabe quem é e o motivo dele estar ali. Isso é um apagamento histórico”, avaliou.

Nascido na antiga Desterro, Fernando Machado foi uma das figuras centrais na história da cidade, com papel decisivo em batalhas da Guerra do Paraguai. Sua estátua, inaugurada em 1917, carrega um forte simbolismo histórico e urbano, mas agora está incompleta.

O monumento, erguido sobre uma base de pedra, exibe cenas de batalha em bronze em um dos lados e as figuras de um leão em alto-relevo em dois outros – um com o ano de nascimento e outro com o ano de morte do coronel.

No entanto, a principal placa, que tinha informações sobre o governo da época e a data de inauguração, foi removida. A equipe de reportagem também notou que as esculturas dos leões parecem estar sendo puxadas para fora da pedra, sinal de uma tentativa de furto.

“Ela [a estátua] acompanhou toda a transformação da cidade. Quando foi colocada ali, via o mar. Depois, viu surgir o Miramar, que foi aterrado. A cidade cresceu e ela continuou ali, testemunhando tudo. Agora, resiste ao sumiço de sua própria história”, lamentou o historiador.

Para Rosa, o sumiço das placas revela fragilidade na preservação da memória. “Esses símbolos são importantes para a cidade e para as pessoas. Um professor de artes pode iniciar um debate a partir de uma dessas estátuas. Um professor de geografia pode abordar a transformação do espaço urbano. Até um professor de português poderia explorar a grafia antiga das placas desaparecidas”, exemplificou.

Problema para o Centro da cidade

Na praça Olívio Amorim, um busto de cobre foi furtado. Na avenida Hercílio Luz, há uma pedra fundamental sem a placa para sinalizar a origem. Na avenida Rio Branco, em frente à antiga Casa de Saúde, a história também foi apagada com o sumiço da placa que explica de quem é a figura de cobre. O mesmo aconteceu nas praças Getúlio Vargas e Fernando Machado, onde estavam mais placas de bronze e cobre.

Na avenida Hercílio Luz, busto foi retirado – Foto: Germano Rorato/ND

Na Agronômica, os bustos da Delminda Silveira e do acesso ao Hospital Infantil também perderam suas identificações. “São peças insubstituíveis”, lamentou Maas.Segundo a Constituição Estadual de 1989, é de competência do município “promover a proteção do patrimônio histórico-cultural, paisagístico e ecológico local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual”.

O que diz a prefeitura

A Secretaria de Segurança e Ordem Pública de Florianópolis informou que “realiza diversas operações para coibir furtos e atos de vandalismo”. A pasta garantiu que “não recebeu nenhuma denúncia sobre a situação mencionada, nem flagrou ocorrências neste sentido”.

Mesmo assim, a prefeitura disse que a Secretaria de Planejamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano, que planeja os itens de reconhecimento e registro histórico em espaços públicos, irá enviar equipe a campo na próxima semana para averiguar os locais e fazer um levantamento das necessidades.

O 4º BPM (Batalhão da Polícia Militar) orienta que “ao perceber a falta e/ou flagrar alguém em atitude suspeita tentando furtar tais objetos, o cidadão deve ligar imediatamente para a PMSC”.

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