Nicolás Maduro: o presidente autoritário que quer o 3º mandato na Venezuela


Ex-motorista de ônibus e líder sindical, Maduro chegou ao poder como herdeiro do chavismo. Ao longo de 11 anos, governo foi marcado por crises econômicas, perseguição a opositores e polêmicas. Nicolás Maduro durante comício em 25 de julho
Fernando Vergara/AP
Nicolás Maduro terá um capítulo decisivo em sua vida pessoal e política neste domingo (28). Se vencer as eleições na Venezuela, garante o terceiro mandato como presidente e mais seis anos no poder. Se perder, será o protagonista do fim de um ciclo de 25 anos de governos chavistas.
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Aos 61 anos, Nicolás Maduro Moros nasceu em Caracas. Após concluir o ensino médio, ele conseguiu um emprego como motorista de ônibus no sistema do Metrô de Caracas.
A escalada ao poder começou ainda como motorista. Maduro fundou um novo sindicato para representar os trabalhadores do Metrô de Caracas, no fim da década de 1970.
Mais tarde, tornou-se militante do Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), que era liderado por Hugo Chávez. Em 1992, após a tentativa de golpe fracassada e a prisão de Chávez, Maduro ganhou fama pelo ativismo em favor da libertação do líder revolucionário.
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Nos anos seguintes, Maduro foi eleito deputado, nomeado chanceler, até chegar à Presidência. O governo dele é marcado por polêmicas, crises econômicas e isolamento internacional.
Alto, com um bigode espesso que exibe com orgulho, o ex-motorista de ônibus e dirigente sindical de explora os estereótipos de “homem do povo”, de “presidente trabalhador”, como gosta de ser chamado, para seu benefício político, evocando um passado de vida simples em longas noites televisionadas com Cilia Flores, sua esposa e “primeira combatente”, muito poderosa nos bastidores.
Nesta reportagem você vai ver:
A carreira política de Maduro
A nomeação e eleição para presidente
As crises econômicas no governo
Acusações de autoritarismo
A polêmica de Essequibo
A disputa eleitoral pelo terceiro mandato
Carreira política de Maduro
Nicolás Maduro saiu do sindicalismo diretamente para a política. Identificando-se com a esquerda, foi um dos fundadores do partido de Hugo Chávez, o Movimento Quinta República.
Em 1999, Chávez foi eleito presidente. Naquele ano, Maduro tornou-se membro da Assembleia Nacional Constituinte. Em 2000, foi eleito deputado, chegando a ser presidente da Casa em 2006.
Maduro deixou a Assembleia da Venezuela após ser convidado por Chávez para ser ministro das Relações Exteriores. Na época, ele já era muito próximo do então presidente. Como chanceler, Maduro se manteve fiel ao chavismo e era considerado por diplomatas uma pessoa fácil de lidar.
Em outubro de 2012, Hugo Chávez foi reeleito para um quarto mandato na Venezuela e escolheu Maduro para ser seu vice-presidente. Pouco tempo depois, o presidente se afastou do cargo para cuidar da saúde, e o vice assumiu o comando interinamente.
Chegada à Presidência da Venezuela
Cartaz com as fotos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, em abril de 2013
Ramon Espinosa/AP
Com a morte de Chávez, em março de 2013, novas eleições presidenciais foram feitas. Maduro, que já despontava como liderança, era visto como sucessor natural do chavismo. Ele foi eleito presidente por uma pequena margem de votos, derrotando o opositor Henrique Capriles.
Os anos seguintes foram marcados por instabilidade política na Venezuela. Com uma crise financeira, em 2014, as ruas do país foram tomadas por manifestantes de oposição que exigiam a saída de Maduro do poder.
Leopoldo López, que liderou as manifestações, acabou preso em 2015 acusado de incitar a violência. No mesmo ano, Antonio Ledezma, então prefeito de Caracas, também foi detido acusado de conspirar contra o governo.
A comunidade internacional passou a olhar a Venezuela com preocupação, e o país foi alvo de sanções dos Estados Unidos por violação aos direitos humanos.
Em 2016, a oposição tentou tirar Maduro do poder mais uma vez por meio de um referendo, além de organizar novos protestos. Mas o presidente conseguiu se manter no cargo com apoio da Justiça, que foi acusada de favorecê-lo.
No ano seguinte, novos protestos violentos aconteceram na Venezuela, resultando em mortes.
Em julho de 2017, foi eleita uma Assembleia Constituinte com poder absoluto, substituindo o Parlamento na prática, mas não reconhecida por vários governos. O chavismo venceu as eleições para governadores em outubro, e as municipais em dezembro, com a oposição denunciando fraudes.
Em 2018, a Assembleia Constituinte decidiu antecipar as eleições presidenciais, e Maduro foi reeleito. A oposição, por outro lado, boicotou a votação e alegou fraude. Estados Unidos e países da Europa e América Latina não reconheceram o resultado por falta de transparência.
Crise econômica
Com fome, parte da população da Venezuela procura comida no lixo
BBC
O primeiro mandato de Maduro na presidência foi marcado por forte crise econômica, com retração do PIB. Em 2019, um relatório do Banco Mundial apontou a “implosão” da Venezuela devido à gestão da economia, além da queda nos preços internacionais do petróleo.
Enquanto isso, Maduro dizia que era alvo de uma perseguição imperialista, culpando os Estados Unidos e empresas pela crise que castigava o país.
Com uma das maiores reservas de petróleo do mundo, a Venezuela tinha o recurso como praticamente a única fonte de receita externa. Quando os preços estavam em alta, o país aproveitou o “boom” para obras e crescimento social.
Quando o preço do barril do petróleo despencou, em 2014, influenciado por fatores globais, a Venezuela foi duramente afetada, provocando um rombo nas contas públicas.
Para tentar contornar a crise, o governo passou a imprimir mais dinheiro. No entanto, a medida provocou uma hiperinflação, com projeção de 10.000.000% ao ano, em 2019.
A hiperinflação elevou os índices de pobreza e aumentou a desigualdade social. O governo tentou tabelar preços e passou a subsidiar a importação de produtos. Isso levou o país a depender cada vez mais de outros países, inclusive para coisas básicas.
Diante da elevação da pobreza, a fome se agravou. A Venezuela também enfrentou apagões e falta de água. A crise desencadeou uma saída em massa de venezuelanos do país, sendo que milhares cruzaram a fronteira com o Brasil em busca de novas oportunidades.
Segundo relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), em 2023, mais de 6 milhões de venezuelanos estavam fora do país, sendo que a grande maioria se realocou em outros países da América Latina.
Além disso, um levantamento feito no ano passado pela Universidade Católica Andrés Bello, da Venezuela, aponta que cerca de metade da população do país está em situação de pobreza.
Autoritarismo
Caminhão incendiado durante uma manifestação contra o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, em Caracas, na Venezuela
Christian Veron/Reuters
Nicolás Maduro foi acusado de manter um governo autoritário ao longo dos últimos 11 anos. Durante o mandato, foi denunciado por perseguir opositores, centralizar o poder e, até mesmo, tentar anexar parte do território da Guiana.
Alvo de vários protestos, Maduro optou por usar a repressão para combater quem se manifestava contrariamente ao governo. Os maiores movimentos foram registrados entre 2014 e 2019.
Durante as manifestações, testemunhas relataram ações de violência por parte das forças de segurança, além de prisões arbitrárias e mortes. Somente em 2019, segundo levantamento do Observatório Venezuelano de Conflito Social, 67 pessoas morreram em ações contra o governo.
Um dos protestos, em 2017, foi motivado pela convocação de Maduro de uma Assembleia Constituinte, sem a participação do Parlamento. O presidente justificou que uma nova Constituição iria ajudar a solucionar a crise que o país vivia.
Por outro lado, analistas viram o movimento de Maduro como uma tentativa de driblar o Congresso, que era controlado pela oposição. Ainda em 2017, a Assembleia Constituinte composta por chavistas tomou os poderes do Parlamento.
A Constituinte acabou sendo encerrada em 2020, sem propor uma nova Constituição. No mesmo ano, o partido de Maduro venceu as eleições legislativas. Ou seja, o Congresso retomou o poder, mas com maioria do governo.
Além disso, os últimos processos eleitorais da Venezuela foram marcados por denúncias de irregularidades, com opositores sendo impedidos de concorrer.
Essequibo
Maduro segura novo mapa da Venezuela com anexação de Essequibo
Zurimar Campos/Presidência da Venezuela
No fim de 2023, Maduro propôs à Assembleia Nacional uma lei para criar uma província venezuelana em Essequibo. A área representa cerca de 70% do território de Guiana e é disputada entre os dois países há mais de 100 anos.
As atenções da Venezuela para a região aumentaram após a descoberta de petróleo, em 2015. Estima-se que existam reservas de 11 bilhões de barris, sendo que a parte mais significativa é “offshore”, ou seja, no mar, perto de Essequibo.
A tentativa de Maduro provocou instabilidade na América do Sul, com ameaças de guerra. Em dezembro de 2023, ele chegou a se encontrar com o presidente da Guiana em São Vicente e Granadinas.
Mesmo com a assinatura de um acordo para resolver controvérsias com ajuda do Tribunal Internacional de Justiça, Maduro promulgou uma lei criando uma província da Venezuela na região em abril deste ano.
O texto, chamado de “Lei Orgânica para a Defesa de Essequibo”, tem 39 artigos e regulamentou a fundação do estado da “Guiana Essequiba”.
Um dos artigos da lei impede que apoiadores da posição do governo da Guiana ocupem cargos públicos ou concorram a cargos eletivos. Em tese, esse dispositivo criou uma barreira para qualquer pessoa que adotar medidas contrárias à anexação do território de Essequibo pela Venezuela.
A Guiana disse que não vai permitir a anexação do território.
Tentativa do terceiro mandato
Pesquisas de intenção de voto sugerem que Nicolás Maduro, no poder há 11 anos e concorrendo à terceira reeleição, corre risco de ser derrotado
EPA/BBC
Maduro está concorrendo ao terceiro mandato como presidente. Se for eleito, poderá governar o país até 2031. No entanto, o pleito já é marcado por uma série de polêmicas.
Em outubro do ano passado, o governo da Venezuela e a oposição chegaram a um acordo para a realização das eleições. O tratado foi mediado pelos Estados Unidos com o apoio do Brasil.
Com o acordo, era esperado que nenhum candidato fosse barrado de participar das eleições. Além disso, o pleito teria a presença de observadores internacionais. Em troca, os Estados Unidos suspenderam sanções contra a Venezuela.
A oposição resolveu formar uma coalizão para conseguir concorrer, criando a Plataforma Unitária Democrática. No entanto, mesmo diante do acordo, os opositores começaram a enfrentar dificuldades.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado por Maduro, impediu María Corina Machado de concorrer, em janeiro deste ano. Ela era considerada o principal nome para enfrentar o presidente.
Em seguida, Corina Yoris apareceu como uma alternativa, mas não conseguiu acessar o sistema de registro eleitoral por razões não especificadas. Diante deste cenário, a oposição se reuniu em torno do nome do ex-diplomata Edmundo González, que conseguiu se candidatar.
Em maio, a Venezuela retirou o convite para que a União Europeia enviasse observadores para as eleições. Com isso, a comunidade internacional voltou a ter dúvidas sobre a lisura do pleito.
No dia 17 de julho, Maduro disse que poderia haver “banho de sangue” e “guerra civil” na Venezuela caso ele não vença as eleições. Em comícios mais recentes, ele afirmou que vai vencer a “extrema direita” e que não quer “choradeira”.
“O destino da Venezuela no século 21 depende de nossa vitória em 28 de julho. Se não quiserem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida, produto dos fascistas, garantamos o maior êxito, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo.”
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