Do topo das araucárias ao prato: conheça os benefícios do pinhão, alimento símbolo da Serra da Mantiqueira


Em Campos do Jordão, cidade na Serra da Mantiqueira, o pinhão é tradicional e movimenta a economia local. Diferentes receitas podem ser feitas com a semente, que ajuda o sistema imunológico e no controle da saciedade. Pinhão é a semente da araucária, composto por 75% de amêndoa e 25% de casca.
Gilson Abreu/SGAS
As árvores araucárias enfeitam as florestas de diferentes regiões do país que possuem o ecossistema da Mata Atlântica e guardam uma semente de ouro: o pinhão. O alimento, símbolo da Serra da Mantiqueira, movimenta a economia local, é versátil e nutritivo, além de compor uma culinária diferenciada.
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🌰 O pinhão é a parte comestível da pinha e é formado por uma casca e uma castanha. Ele tem a sua época de colheita variando de março até julho e vem ficando cada vez menos restrito nas opções gastronômicas. O alimento pode ser feito não apenas cozido ou assado, mas também compondo variados pratos doces e salgados.
No interior de São Paulo, em Campos do Jordão e em outras cidades que compõem a Serra da Mantiqueira, o pinhão é tradicional e movimenta a economia local. O alimento é presente em diversos restaurantes e a variedade dos pratos que podem ser feitos com ele chama atenção.
“É muito versátil, o pinhão pode ser produzido em uma farinha, fazer ele cozido, assado ou à conserva. Também pode trabalhar ele em massas e molhos, consegue defumar e pode ser feito até em guarnições para carnes. Então é uma variedade enorme”, afirmou Luiz da Rocha, chef executivo em Campos do Jordão.
Luiz é chef executivo de uma rede de restaurantes da cidade. Ele conta que em cada um tem pelo menos um prato especial contando a semente da araucária. Um que faz sucesso é a ‘truta do chefe’, composto por uma truta grelhada ao molho pesto, com pinhões, acompanhado de massa caseira, fettuccine artesanal e cogumelos.
“É um prato regional e chama muito a atenção dos turistas. Pinhão e truta são os alimentos mais procurados da cidade depois do fondue, que também é uma marca registrada de Campos. Aqui as pessoas vêm por coisas específicas da Serra da Mantiqueira e o pinhão é uma dessas coisas. É importante para a cidade como fonte de renda e valorização do produto, e os turistas valorizam essa tradição”, completou Luiz.
Truta do Chefe: prato composto com pinhão faz sucesso em Campos do Jordão
Arquivo pessoal
Benefícios
De acordo com a Nutricionista Clínica Funcional, Érica Moreira, o alimento é composto por muitas fibras e é fonte de carboidratos.
“O pinhão é uma semente e muita gente confunde com uma oleagenosa, então acha que ele é fonte de gorduras. E não, a principal fonte dele é de carboidratos. Além disso, ele tem muitas fibras, o que ajuda no controle da saciedade e funcionamento intestinal. Nele também temos o zinco, ajudando na imunidade, no sistema imunológico de uma forma geral e no controle da pressão arterial. É rico também em cobre, magnésio, manganês e ferro”, afirmou Érica.
A nutricionista também conta que o fruto da araucária só deve ser evitado se a pessoa que comer sentir uma sensibilidade ou intolerância, como gases ou distensão abdominal. O alimento, assim como a maioria, deve ser consumido com moderação, com a recomendação da especialista sendo cerca de dez sementes em um café da tarde, por exemplo.
Além disso, por seu forte componente nutricional, o pinhão pode ser incluído em praticamente todas as dietas.
“Desde que o paciente não tenha alguma alergia ou intolerância, ele pode ser incluído em todas as dietas. Pode ser para perder peso ou ganho de massa magra, mesmo ele sendo rico em carboidrato. Mas tem que ser uma dieta calculada, deve-se controlar a quantidade de calorias”, ponderou Érica.
Associados chegam a produzir mil quilos de pinhão por mês em Campos do Jordão
Arquivo pessoal
Tradição e fonte de renda
Em Campos do Jordão, não é apenas nos restaurantes que o pinhão é encontrado. É comum ver comerciantes, após a colheita, vendendo a semente nas ruas e em barracas, por exemplo. Isso porque a cidade, desde 2014, possui a Associação dos Vendedores de Pinhão de Campos do Jordão (AVEPI), com o objetivo de manter a tradição e a representação cultural do alimento na região.
A AVEPI surgiu por iniciativa dos próprios vendedores de pinhão que já atuavam na cidade. Apesar da semente ser de livre comércio, os associados, após a colheita, comercializam e fomentam negócios e produção, além de dialogar intermediando conflitos e catalogando os produtos.
A semente, após todo trabalho de produção, é oferecida no varejo aos turistas e restaurantes locais.Os associados produzem anualmente cerca de 100 toneladas do pinhão in natura (cru). E o pinhão beneficiado, que são todos os produtos derivados do pinhão, chega a ser produzido 1 mil quilos por mês em Campos do Jordão.
Segundo o presidente da AVEPI, Carlos Jobson de Sá Filho, a associação é importante para estabelecer relações e evitar conflitos.
“É um comércio muito disputado justamente pelo potencial da semente a ser explorado. E esse é o meu trabalho enquanto representante da associação: com cautela, evitar conflitos desnecessários, fomentar e estabelecer parcerias e relação ganha-ganha. Estimamos que na Serra da Mantiqueira, em torno de 500 famílias formais e informais se beneficiam direta ou indiretamente do pinhão”, contou Carlos.
No varejo informal, ou seja, nas avenidas e rodovias, onde são ofertados a turistas, o pinhão in natura sai em média a R$ 8 o quilo. Já o pinhão cozido e embalado, que são ofertados a restaurantes, supermercados e eventos, é comercializado em média por R$ 50 o quilo. Para Carlos, o fruto da araucária tem grande importância para a agricultura familiar e as relações sociais.
“A importância de manter a tradição para a cidade está justamente nas relações sociais, famílias conhecem famílias e conversam, falam de suas origens. A agricultura familiar ainda é exercida com a coleta, com a comercialização e tratamento da semente. O pinhão simboliza simplicidade e união sendo o pretexto ideal para reunir as pessoas de uma maneira simples, independente da classe social”, completou.
E esse trabalho de conscientização da importância do pinhão e sua tradição para a cidade é feito arduamente pela AVEPI.
“Estamos tentando introduzir uma nova maneira de olhar para o pinhão, além de catar e vender na rua apenas. O pinhão é um alimento fantástico, para mim ele tinha que ser obrigatório nas merendas escolares. É rico em diversos nutrientes e é de fácil digestão. Além da importância de sempre ter um ingrediente local”, contou Tânia Maia Taiar, secretária da associação.
O pinhão faz parte de variadas receitas e é recomendado em dietas. Alimento é queridinho de Campos do Jordão, no interior de SP
Arquivo pessoal
Os associados fazem todo o processo de produção do alimento. Após a colheita, uma pessoa descasca e embala cerca de 24 quilos de pinhão por dia. É um processo lento, com ele ficando também 12 horas de molho. Tânia ainda conta que o pinhão poderia ser melhor divulgado, pois muita gente não conhece o alimento ou não sabe usá-lo da maneira correta.
“Eu comparo muito com o açaí. Sempre foi um tesouro do nosso país e até um tempo atrás não era muito conhecido e consumido. De uns anos para cá, o açaí teve esse trabalho de marketing e divulgação e hoje é consumido pela maioria das pessoas. O pinhão, por todos os seus benefícios, poderia acontecer a mesma coisa”, completou Tânia.
Festival do pinhão movimenta Campos do Jordão
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