‘O que me restaram foram oito sacolas’: moradora relata vida fora de casa três meses após enchente no RS; 3,3 mil seguem desabrigados


Porto Alegre é o município com maior número de pessoas desabrigadas. Cerca de 2,4 milhões de pessoas foram afetadas em todo o estado. Moradora do RS relata vida fora de casa três meses após a enchente
q
A enchente de maio, que deixou 182 mortos e 29 desaparecidos, segue afetando a população que precisou deixar a própria casa no Rio Grande do Sul. O número de pessoas em abrigos, cerca de três meses após as cheias e os temporais, chegou a cerca de 3,3 mil até sexta-feira (26), segundo o governo estadual.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
Entre as diversas famílias afetadas está a de Maria Benachio, que está morando com o filho no terceiro Centro Humanitário de Acolhimento (CHA) implantado pelo governo estadual em Canoas (entenda abaixo). O cômodo conta com duas camas individuais e um beliche, remédios e oito sacolas de doações.
“Aos 53 anos, o que me restaram foram oito sacolas, amém, de doação. Então isso mais ou menos se resume. É isso tudo o que a gente tem”, afirma.
A moradora do bairro Rio Branco representa 44% da população de Canoas que precisou sair de casa. O município da Região Metropolitana foi o que mais teve pessoas atingidas, segundo o Mapa Único do Rio Grande do Sul, lançado pelo governo em meio às enchentes. O fenômeno afetou 152.852 pessoas na cidade.
Ao todo, 80 abrigos reconhecidos pelo governo acolhem as milhares de pessoas em 36 municípios gaúchos. As cidades que mais abrigam pessoas são Porto Alegre e Canoas, além de Encantado, no Vale do Taquari. Juntas, elas somam mais de 1,5 mil pessoas abrigadas.
ANTES e DEPOIS: Redução do nível do Guaíba revela banco de areia
Sítio arqueológico é encontrado após enchente
Ferrovias do RS estão isoladas do restante do país
Moradora do RS, Maria Benachio está fora de casa três meses após enchente
Maria Eduarda Ely/RBS TV
Em Encantado, Elisabete da Silva e os filhos estão em abrigos desde a enchente de setembro do ano passado. Eles são uma das mais de 400 famílias desabrigadas ou desalojadas no município, que hoje conta com seis abrigos.
A dona de casa está no terceiro local diferente desde aquele período. Divisórias de madeira garantem um mínimo de privacidade, mas não resolvem o problema, que é questionado pelos filhos.
“Os meus filhos também me cobram: ‘mãe, quando nós vamos para a nossa casa? A gente vai ficar aqui até quando?'”, revela. “A gente está na espera. E a espera gera um sentimento de dúvida. Até quando? Será que vai acontecer? Será que a gente vai realmente ir para as nossas casas?”, complementa.
O impacto das enchentes tem afetado também os estrangeiros. É o caso do venezuelano Albert Ruiz, que mora há quatro anos no Brasil e está desempregado. Ele morava no estado com a esposa e o filho há apenas dois meses quando a casa em que residiam foi atingida pela água. A saída encontrada foi se abrigar em um centro humanitário.
“Este lugar que é um pouco melhor, mais confortável para nós e para nossas crianças”, afirma.
Família venezuelana foi atingida pela enchente e está em centro humanitário
Reprodução/RBS TV
Dos abrigos para os centros humanitários
A população da Região Metropolitana de Porto Alegre que estava em abrigos logo após ter a casa inundada pelas enchentes está sendo acolhida, aos poucos, em Centros Humanitários de Acolhimentos (CHAs). Esses espaços, idealizados pelo governo estadual e pelas prefeituras, também ficaram conhecidos como “cidades provisórias”.
As estruturas contam com dormitórios, banheiros, refeitórios, fraldário e lactário, posto médico, além de espaço para crianças e animais.
‘Cidade provisória’ de Canoas começa a receber famílias
Divulgação/Joel Vargas – Governo do RS
Dos cinco locais pensados para abrigar, temporariamente, famílias atingidas pela enchente, três já foram concluídos e estão recebendo famílias. Em Porto Alegre, o Vida Centro Humanístico, na Zona Norte, acomoda 291 pessoas. Já em Canoas, dois centros de acolhimentos, somados, recebem 475 desabrigados. Eles ficam na Avenida Guilherme Schell, próximo da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), e no Centro Olímpico Municipal.
Outros dois espaços serão instalados na capital. Uma das estruturas ficará no estacionamento do Complexo Cultural Porto Seco, na Zona Norte, que recebe os desfiles de Carnaval. O outro ficará no Centro de Eventos Ervino Besson, na Zona Sul, que geralmente é palco de eventos realizados juntamente com o município.
O governo alega que as medidas são temporárias e vão durar até a construção de casas definitivas por meio de programas do governo federal.
Centro Humanitário de Acolhimento – Recomeço, em Canoas
Divulgação/ Governo do RS
Números da tragédia no RS
Os temporais e as cheias que atingiram o Rio Grande do Sul deixaram 182 vítimas, segundo o mais recente boletim da Defesa Civil, divulgado em 10 de julho. 29 pessoas seguem desaparecidas e 806 ficaram feridas.
Dos 497 municípios do estado, 478 registraram transtornos relacionados aos temporais, afetando quase 2,4 milhões de pessoas.
As ruas, avenidas, estradas e rodovias atingidas pela inundação somam uma distância suficiente para atravessar Brasil de norte a sul ou de leste a oeste, segundo o Mapa Único do Plano Rio Grande (MUP).
Imagem de satélite feita nesta segunda-feira (6) mostra região de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, tomada pela enchente
European Union/Copernicus Sentinel-2 via Reuters
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
Adicionar aos favoritos o Link permanente.