Lideranças indígenas se reúnem no interior do Acre para discutir enfrentamento a mudanças climáticas


Encontro da Organização dos Povos Indígenas do Juruá chamou atenção para degradação ambiental e abriu espaço para relatos sobre impactos em terras indígenas e iniciativas que auxiliam no combate a mudanças climáticas. Evento reuniu lideranças indígenas e representantes de instituições e órgãos públicos para discutir preservação ambiental
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Representantes das 11 etnias indígenas do Vale do Juruá participaram de uma oficina de adaptação e enfrentamento as mudanças climáticas nesta sexta-feira (26). O encontro ocorreu em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, e foi promovido pela Organização dos Povos Indígenas do Juruá (Opirj) e contou com a participação de coordenadores de instituições de proteção do meio ambiente e de gestores do governo do estado.
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De acordo com o presidente da Opirj, Francisco Piãko, a preocupação com as mudanças climáticas motivou os debates para avaliar a atuação de todos atores que devem ser envolvidos no controle das atividades nocivas ao meio ambiente.
“Nos encontros que a gente está fazendo, se percebeu a necessidade de fazer esse debate e chamar as instituições para saber o que elas estão fazendo, também, para esse enfrentamento. Por isso chamamos de adaptação para o enfrentamento. Porque é uma realidade, ninguém está falando mais se vai acontecer o aquecimento global. Já existe, isso é real”, ressaltou.
“Ninguém está falando mais se vai acontecer o aquecimento global. Já existe, isso é real”, disse Francisco Pyãnko
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Ninguém melhor do que os indígenas para demonstrar consciência e cuidar bem do meio ambiente. Os nativos sabem conviver muito bem com a natureza. No entanto, eles também sofrem com os impactos das mudanças climáticas. Por isso, eles lutam por mudanças de comportamento social para que todos sigam o mesmo exemplo, adotando praticas sustentáveis para preservar o meio ambiente.
Paulo Nukini é cacique de uma aldeia em Mâncio Lima, e apresentou no encontro um modelo de preservação que já é praticado por seu povo. Além de evitar a agressão a floresta, o povo nukini desenvolve um projeto de reflorestamento na aldeia que tem se tornado modelo para outras comunidades.
“A gente já vem trabalhando isso, a aldeia Vacá Viçu vem trabalhando com reflorestamento de área degradada. Hoje, nós já estamos com mais de 20 mil mudas já dando frutos. Então, é uma aldeia que está se destacando muito rápido devido ao empenho da liderança, do caçique, de todo o conjunto das comunidades trabalhando sobre nascente de águas, sobre as pastagens que não tem utilidade e animais que estão vivendo. Então, a gente está em recuperação dessas terras”, explicou.
Aldeia vacá viçu cultiva mais de 20 mil mudas em iniciativa de reflorestamento no interior do Acre
Arquivo pessoal
A secretária dos Povos Indígenas do Acre, Francisca Arara, participou do encontro. Ela disse que apoia a movimentação dos indígenas e garante que o governo também tem estratégias definidas para tentar minimizar os impactos ambientais.
Lideranças indígenas se reúnem em Cruzeiro do Sul para discutir mudanças climáticas
“Os povos indígenas já fazem isso há décadas, cuidando da manutenção das florestas, da preservação, da demarcação, dos direitos dos povos indígenas. E o governo do Acre tem um plano de adaptação estadual. Dentro desse plano, nós temos seis eixos para trabalhar as políticas voltadas aos povos indígenas nessa questão da adaptação das mudanças climáticas. Infraestrutura, que é aquela que a água vai lá e leva as casas, leva barco, leva motor. E segurança alimentar, cestas básicas, coisa mais emergencial e água potável e saúde”, listou.
O coordenador da Opirj enfatizou que as ações para minimizar os impactos ao meio ambiente devem ser emergenciais. Ele lembra que, a cada ano, as catástrofes naturais se tornam mais frequentes e mais prejudiciais ao planeta.
“A gente vive cuidando da floresta e a gente percebe que tem muitas coisas que estão mudando. Há menos de um ano, a gente teve uma seca extrema, teve uma cheia e agora outra seca. Então, o esse processo está afetando diretamente nossos povos. A organização dos povos indígenas está chamando essa reunião para ouvir todos os territórios. São 11 terras indígenas que tem nessa região [Vale do Juruá]. A gente está trazendo para que eles coloquem aquilo que está acontecendo em cada território, para a gente, a partir daí, poder fazer um diálogo com as instituições, também poder, a partir daí, dar encaminhamento para esse enfrentamento”, acrescentou.
VÍDEOS: g1
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