Geração térmica: fonte firme garante segurança energética em tempos de mudanças climáticas

Recentemente, o Plenário do Senado aprovou o substitutivo ao PL (Projeto de Lei) 576/2021, que autoriza a exploração de energia eólica em alto-mar, no formato offshore. Mas, o texto também trouxe sugestões que vieram da Câmara dos Deputados.

Geração térmica é considerada fonte firme de energia – Foto: Divulgação/Petrobras/ND

A proposta obriga a contratação — até 2050 — de termelétricas a carvão mineral, com exigência de funcionamento de até 70% dos dias do ano, nos leilões de reserva de capacidade. Pela legislação em vigor, essa obrigatoriedade acabaria em 2024.

A proposição, também, prevê a contratação de usinas termelétricas a gás natural por mais tempo ao longo do ano, e não apenas quando há risco de insegurança elétrica. O projeto foi aprovado por 40 senadores, entre eles, Rogério Marinho (PL) do Rio Grande do Norte. No seu discurso na tribuna ressaltou a importância das térmicas na segurança energética do país.

“Nós somos um país credor do mundo, o mundo nos deve porque nós temos um potencial de preservação das nossas florestas e uma matriz energética limpa, então, o que nós estamos produzindo para permitir a nossa industrialização, nosso crescimento e a nossa capacidade econômica é perfeitamente suportável, eu diria até com sobras, pelo fato que estamos investindo na matriz alternativa. E essa matriz alternativa precisa ter, além de qualidade, ter segurança. E a segurança só vai se dar se fizermos mais térmicas a gás e se preservarmos as térmicas a carvão num período que possa haver uma transição energética responsável”, enfatizou o senador.

A aprovação do Projeto de Lei 576/2021 é considerado mais um passo na transição energética do país, pois permite que em tempos de condições climáticas tão adversas haja segurança no fornecimento de energia. Luiz Carlos Ciocchi, ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico, que ficou à frente da ONS por quatro anos, lembra que a intermitência das fontes que dependem de recursos naturais precisa ser suprida pelas fontes firmes para que não haja desabastecimento.

“A energia solar é muito boa, muito bacana e todos nós torcemos para que o crescimento continue acentuado só que ela não funciona a noite, então, você precisa ter algum outro recurso para complementar essa geração. A energia eólica é ótima, mas não se consegue controlar o fluxo do vento. Então, você precisa ter fontes despacháveis, ou seja, aquela que o Operador Nacional do Sistema possa pedir para ligar, entrar, sair, comandar essa operação para que a gente sempre consiga atender a sociedade em todos os momentos”, explica Ciocchi.

Indústria busca fontes complementares de energia – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Além disso, o diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) destaca que a complementariedade das fontes garante que tenhamos eletricidade nas casas, comércios, industrias, sem preocupação. Segundo, Pedro Rodrigues, todas devem ser consideradas importantes dentro do processo de transição energética.

“É uma forma até ingênua da gente ver a transição energética somente com fontes renováveis de energia. As fontes renováveis são intermitentes, mas também indisciplinadas. Todo mundo quer tomar banho quente a noite e não está preocupado se está ventando ou não para poder ver seu jornal, sua televisão, então para isso, precisamos ter as fontes térmicas. E as fontes térmicas, incluem o carvão, gás natural e a energia nuclear, pois não é possível falar de uma transição energética sem a geração de energia térmica. Essa transição energética que a gente está vivendo ela não vai ser protagonizada por uma única fonte de geração de energia, ela vai ser protagonizada por uma multiplicidade de fontes visando, sempre, termos energia. Porque o mais caro, nesse sentido, é nós não termos energia”, destaca o diretor da CBIE.

Mesma opinião compartilhada pelo diretor-presidente Thymos Energia, João Carlos Mello. Segundo ele, a segurança que as fontes firmes podem trazer ao sistema precisam ser levadas em consideração.

“O sol, vento e chuva você tem a intermitência da natureza, já a produção de petróleo, óleo e carvão tem muito menos essa interferência, portanto, são suprimentos mais seguros. E tem o lado da segurança energética que é importantíssimo, pois não adianta a gente ser 100% não emissor e não ter segurança, então, essas fontes fazem parte deste processo e evidentemente com as tecnologias avançando vamos ter novas soluções. Mas, tem que ser realista, pois precisamos dessas fontes, sim!”, ressalta João Carlos.

O carvão mineral é transformado em energia elétrica em usinas – Foto: Divulgação/ND

O setor carbonífero em funcionamento não traz só a segurança de saber que, independente do clima ou do tempo, há energia elétrica, pois para Santa Catarina a importância vai além. São mais de 36 mil empregos diretos e indiretos preservados, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com a garantia de recursos para hospitais, escolas e desenvolvimento urbano de 40 municípios da região do sul do estado.

“O carvão ele é sempre olhado como vilão, mas temos que olhar que o Brasil tem menos de 2% da geração de energia a carvão, então, talvez a gente esteja preocupado com uma geração de carvão muito pequena dentro da nossa matriz elétrica, porém com um impacto social enorme se ela não acontecer”, pontua Pedro Rodrigues.

Impactos que estão, também, na economia dos Estados. Cálculos da cadeia da indústria carbonífera no Sul do país apontam que nos próximos 25 anos mais de R$ 100 bilhões serão agregados e R$ 40 bilhões em tributos serão gerados para Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Com a aprovação do projeto de lei 576/2021 pelo Senado a proposta segue para sanção do presidente da República.

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