Com alto movimento, feira de artesanato da Beira-Mar Norte divide opiniões em Florianópolis

Instalada na avenida Beira Mar-Norte, uma das áreas mais valorizadas de Florianópolis, a feira de artesanato que ali funciona nos fins de semana passou a ser um problema para milhares de pessoas que caminham, correm ou circulam de bicicleta ou patinetes. Os pedestres dividem o espaço apertado na calçada com as barracas, onde já são comuns pequenos acidentes.

Feira de artesanato tem causado acidentes com ciclistas – Foto: Reprodução/Instagram/@feirarte.beirama/ND

O grande movimento de pessoas e a proximidade da ciclovia representam um risco à segurança de quem transita pela feira. A feira de artesanato fica perto do trapiche e reúne 55 artesãos. O movimento nos fins de semana vem aumentando, principalmente nos dias ensolarados, quando o espaço é ocupado por pessoas que visitam a feira ou simplesmente caminham.

A alta circulação facilita acidentes com aqueles que param nas barracas ou caminham distraídos. O mais comum é o atropelamento por ciclistas ou patinetes na ciclovia, que fica a poucos passos das barracas.

“Nos fins de semana é recomendado transitar com calma na Beira-Mar, do Koxixo’s até a ponte Hercílio Luz, especialmente perto das feiras”, afirma Vinicius Leyser da Rosa, que dirige a Amobici (Associação Mobilidade por Bicicleta e Modos Sustentáveis).

Para ele, a Feirarte não deve sair da Beira-Mar, mas a localização pode ser revista. “Quem sabe destinar o espaço do bolsão de estacionamento inteiro à feira e aos veículos essenciais à esta, deixando ciclovia e calçada da orla livres para o passeio e atividades esportivas. Tem muito estacionamento no outro lado da avenida e por perto”, sugere.

Movimento na feira de artesanato da Beira-Mar vem aumentando nos fins de semana, principalmente nos dias ensolarados – Foto: Germano Rorato/ND

Ciclistas e feirantes divergem sobre acidentes

Ciclistas que usam a ciclovia da Beira-Mar e feirantes que expõem artesanato na feira divergem em relação aos pequenos acidentes. Para quem trafega em duas rodas, falta atenção dos pedestres, que invadem a ciclovia. Para os artesãos, quem pedala exagera na velocidade e transforma o local em pista de corrida.

Arthur Santos gosta de andar de bicicleta na Beira-Mar com o filho Caio, de dois anos. Aos domingos, porém, precisa de atenção redobrada. “As barraquinhas em frente à ciclovia atrapalham um pouco. Muita gente fica olhando para comprar artesanato ou alimento e isso atrapalha”, opina.

Arthur destaca atenção redobrada aos domingos na região da feira de artesanato – Foto: Germano Rorato/ND

Juliano Silfo tem a mesma opinião. Ele acredita que os ciclistas, em geral, têm mais atenção que os pedestres. “Ali tem muita barraquinha e não tem ponto de travessia. Tem que reduzir e ir com muito cuidado, porque as pessoas entram na ciclovia sem olhar para os lados”, diz.

Coordenador da Feirarte, Yury Menezes acredita que o problema é com os que praticam esporte. “Eles precisam ter noção de que tem um bar, estacionamento, a passagem de pedestre para cadeirante e, muitas vezes, o ciclista não quer parar. É uma ciclovia, não uma pista de ciclismo”, diz.

Feirante há 30 anos, Almir Sidney dos Santos ressalta que o local tem muitas crianças. “Já vi criança sendo atropelada. Os ciclistas passam em muita velocidade. Idoso também sofre aqui”, relata. Para os feirantes, mudar a posição das barracas não vai tirar o risco de acidentes no local. “O problema não é onde as barracas estão, é a velocidade dos ciclistas”, argumenta Yury.

Novo modelo de barraca da feira de artesanato poderia ser escolhido por concurso público

Para a arquiteta Marila Filártiga, doutora e mestre em arquitetura e urbanismo, as feirinhas são um atrativo turístico da cidade e sua função se sobrepõe à estética. Mas acredita que é fundamental que a aparência proporcione uma experiência positiva, tanto para os expositores quanto para os visitantes.

Entre os exemplos de feiras melhor trabalhadas, ela cita a feira hippie em Ipanema (Rio) e a Marché Bastille (Paris), além da Feira do Largo da Ordem (Curitiba). Uma das maiores e mais tradicionais do país, localizada no Centro Histórico capital paranaense, essa feira ganhou novas barracas no início do ano, seguindo um modelo de design considerado inovador.

Em Curitiba, no Largo da Ordem, barracas tem um design inovador – Foto: Reprodução/Instagram/@feiradolargo_

Arquiteta e professora de projetos de arquitetura, Kátia Veras sugere um concurso público. Para ela, o modelo atual das barracas é genérico e não se comunica com a paisagem.

“Na própria cidade temos inspirações interessantes. As propostas poderiam vir de um concurso público para desenvolvimento de protótipos – barracas modulares que se combinariam em diferentes configurações -, trazendo flexibilidade e melhor adequação aos espaços da cidade”, afirma.

O coordenador da Feirarte, Yury Menezes, concorda com a necessidade de melhoria estética nas barracas de Florianópolis. Lembra, porém, que um decreto define isso. “O padrão pode ser melhorado. Todos usam azul. Acredito que pode melhorar, sim. Pode ser algo mais bonito”, opina. Para ele, a ideia de um concurso na cidade para escolher o melhor modelo seria interessante.

Padronização no espaço público

A subsecretária de Turismo da Capital, Carla Costa, que cuida das feiras de forma interina, reitera que o padrão segue um decreto e o regramento do artesanato brasileiro. Acrescenta que o padrão é esse em muitos lugares do mundo. “Não podemos esquecer: feirante não é comerciante. Se fosse, teria que alugar ponto, pagar alvará, ter funcionários. O feirante é usuário de um espaço público, de forma padronizada”, diz. Sobre a localização da Feirarte, Carla também considera uma situação de difícil resolução e diz que a prefeitura estaria aberta à mudança de local.

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