Incêndio em reserva de Mata Atlântica no Recife deixou rastro de destruição

Na tarde da última segunda-feira (23), um incêndio de grandes proporções devastou quase dois hectares da Reserva de Floresta Urbana (FURB) Mata de Dois Unidos, localizada na Zona Norte do Recife. A área, uma das últimas remanescentes de Mata Atlântica na capital pernambucana, sofreu perdas irreparáveis em fauna e flora, enquanto o combate às chamas revelou uma série de limitações operacionais.

O início das chamas

Relatos de moradores apontam que as primeiras chamas começaram por volta das 9h da manhã, na área próxima à Avenida Hidelbrando de Vasconcelos. O Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) informou ter sido acionado apenas às 10h50. A fumaça já havia se espalhado pela região, causando transtornos respiratórios aos moradores.

Gabriel Vieira, morador da região, informou que ao perceber a gravidade da situação tentou alertar as autoridades. “Liguei para os bombeiros ao meio-dia, mas eles demoraram a chegar. Quando saíram, fizeram o que podiam, mas não tinham como acessar as áreas mais distantes”, relatou.

A atuação dos bombeiros foi encerrada às 17h, mas as chamas continuaram até a noite, segundo moradores. “Eles disseram que não dava para continuar porque estava escurecendo e a área era de difícil acesso. Então o incêndio continuou.”, completou Vieira.

Impacto ambiental

A destruição foi severa: preguiças, cobras e outros animais nativos morreram no incêndio. Dentre as perdas estavam filhos de preguiças recém-nascidas. Rafael Urbano, coordenador de um centro ecológico local, lamentou as perdas. “As preguiças estavam nas imbaús, que são os alimentos delas. Encontramos várias mortas enquanto se alimentavam. Foi desolador”, disse.

Além da fauna, a flora da reserva sofreu danos significativos. A área destruída, segundo Urbano, equivale a quase dois campos de futebol, é crucial para a manutenção do equilíbrio ecológico e atua como uma barreira natural para as comunidades vizinhas.

A fumaça gerada pelo incêndio também afetou diretamente a população. Josiane Gomes, moradora da região, descreveu os transtornos causados pelo fogo. “A casa ficou cheia de fuligem, e a fumaça foi insuportável. Quem tinha problema respiratório não aguentou”, afirmou.

Falhas no combate ao incêndio

A dificuldade de acesso às áreas mais remotas da reserva foi um dos principais entraves para o controle das chamas. Rafael Urbano destacou a falta de infraestrutura adequada, como hidrantes próximos e equipamentos especializados.

“Os bombeiros não tinham mangueiras longas o suficiente para chegar às áreas afetadas. Também pedimos o uso de helicópteros, mas não fomos atendidos. Isso poderia ter evitado um estrago tão grande”, criticou.

Moradores se organizaram para ajudar no combate ao fogo, utilizando baldes de água e mangueiras improvisadas. Uma estação da Compesa próxima à reserva foi utilizada para abastecer os equipamentos manuais.

“Rompi um cano com uma enxada para conseguir água. Foi desesperador, mas era o que podíamos fazer”, contou Rafael.

Origem suspeita

Ainda não há confirmação sobre a causa do incêndio, mas testemunhas suspeitam de ação criminosa. Gabriel Vieira afirmou que pequenas queimadas de folhas secas são comuns na área, mas a intensidade e a velocidade com que o fogo se espalhou levantaram dúvidas. “Não parecia algo natural. Foi muito rápido e destrutivo”, opinou.

O LeiaJá entrou em contato com a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), responsável pela gestão da reserva, mas não obteve resposta sobre o caso. A reportagem também tentou contato com a Secretaria de Meio Ambiente do Recife, já que o secretário Oscar Barreto foi filmado ajudando no combate a focos de incêndio. Mas a pasta não respondeu aos questionamentos.

Um alerta para o futuro

Criada em 1987, a reserva da Mata de Dois Unidos é uma das últimas unidades de conservação da capital e desempenha um papel essencial na preservação da biodiversidade e no equilíbrio climático da região.

Moradores e voluntários continuam monitorando a área, enquanto as autoridades avaliam os danos e tentam identificar a causa do incêndio. Para os habitantes de Dois Unidos, a tragédia deixou marcas e um apelo de que a preservação da natureza não pode ser negligenciada.

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