Clínica de influenciadores suspeitos de causar lesões em pacientes cobrava até seis vezes menos que o valor de mercado, diz polícia


Cirurgias de nariz eram realizadas por R$ 5 mil, enquanto médicos cobram cerca de R$ 30 mil pelo procedimento. Dentista chegou a fazer oito cirurgias num único dia. Vídeo mostra momento em que Karine Gouveia é presa
A Polícia Civil divulgou que a clínica dos influenciadores suspeitos de causar lesões em pacientes com procedimentos estéticos cobrava até seis vezes menos que o valor de mercado. De acordo com o dentista, que era um dos responsáveis técnicos pelo estabelecimento, a clínica cobrava R$ 5 mil para uma cirurgia de nariz. No mercado, um cirurgião-plástico cobra uma média de R$ 30 mil pelo procedimento, informou a polícia.
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Karine Gouveia e Paulo César Dias, donos da clínica, foram presos no dia 18 de dezembro em uma operação policial que investiga a realização de procedimentos estéticos e cirúrgicos que causaram danos físicos e psicológicos a pacientes. Mais de 60 pessoas já procuraram a polícia para denunciar o estabelecimento.
O casal segue temporariamente preso na Casa do Albergado, que abriga pessoas que foram presas por crimes cometidos sem violência. Em nota, a defesa do casal informou que todos os fatos serão devidamente esclarecidos, reafirmou que não há motivação para a manutenção da prisão e que eles nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime (leia a nota ao final do texto).
Segundo a PC, o dentista relatou que o baixo custo dos procedimentos gerava uma alta demanda por atendimento. “Ele revelou que havia agendamentos com intervalos menores que uma hora, totalmente insuficientes para procedimentos cirúrgicos”, diz texto enviado pelo delegado Daniel Oliveira.
Em nota enviada no domingo (29), a defesa do dentista disse que ele “sempre atuou com responsabilidade e dentro dos mais elevados padrões éticos e profissionais”. A advogada Nayara Caixeta afirmou ainda que o profissional apresentou todas as informações importantes às autoridades e que está à disposição para novos esclarecimentos (veja a nota completa ao final do texto).
À esquerda, vítima de procedimento feito em clínica da infleunciadores | À direita – Karine Gouveira e Paulo César
Reprodução/Redes Sociais
O dentista afirmou que chegou a realizar até oito cirurgias num único dia. O profissional declarou que fazia procedimentos como lipoaspiração de papada, retração de orelha e rinomodelação.
O responsável-técnico disse ainda à polícia que a clínica tinha uma política de comissionamento. Assim, as consultoras vendiam o máximo de procedimentos possível.
Além disso, o dentista declarou que não tem formação para realizar os procedimentos e que seu conhecimento era apenas prático. Karine Gouveia e Paulo César Dias, donos da clínica, tinham conhecimento disso, de acordo com o homem.
“[O dentista] relatou que ingressou na clínica por meio de um teste proposto por Karine Gouveia, no qual realizou cirurgias em dois pacientes sem que eles soubessem que eram objeto de um teste”, afirmou texto da PC.
O Conselho Regional de Odontologia (CRO/GO) informou que “eventuais procedimentos administrativos de fiscalização do órgão são sigilosos, não sendo possível compartilhar sua existência ou desdobramentos”. A instituição disse ainda que cirurgiões-dentistas têm formação e capacidade técnica para realizar procedimentos de harmonização orofacial, desde que respeitados os limites de atuação da profissão, a legislação vigente e os princípios éticos que regem a Odontologia.
Imagens mostram lesões de paciente que fez lipo de papada, em Goiânia, Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
A clínica conta com outra responsável técnica, que é biomédica. O Conselho Regional de Biomedicina – 3ª Região (CRBM-3) declarou que está apurando as informações divulgadas e só vai comentar o caso após ser notificado. O CRBM-3 dise ainda que a biomédica possui habilitação em biomedicina estética e que seu registro profissional está regular.
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Sobre o caso
De acordo com a polícia, os procedimentos eram realizados sem condições adequadas. O delegado Daniel Oliveira afirmou que os profissionais não tinham habilitação necessária para o manejo das substâncias usadas, e as instalações da clínica apresentavam problemas, como falta de esterilização e uso de bisturis cegos.
Segundo o delegado, a Vigilância Sanitária documentou pelo menos 18 irregularidades durante a inspeção feita na unidade de Goiânia da clínica. Já unidade de Anápolis, de acordo com a investigação, não possui alvará de licença sanitária e nem projeto arquitetônico aprovado pelo órgão sanitário competente.
Karine Gouveia e Paulo César, casal investigado pela Polícia Civil, Goiás
Reprodução/Redes Sociais
A Polícia Civil explicou que Karine Gouveia não possui formação superior na área da Saúde. O marido dela cuidava da parte administrativa. O delegado afirmou que eles chegaram a intimidar pacientes que buscavam reparação.
A polícia divulgou que muitos famosos frequentaram a clínica de estética de Karine Gouveia e que eles costumavam realizar “procedimentos pouco invasivos”. Nesses casos, segundo a PC, dona da clínica usava “produtos de boa qualidade”. Esses famosos não são investigados.
“Esses famosos, em geral, realizam procedimentos minimamente invasivos e os relatos são de que, com eles, eram usados bons produtos. As outras vítimas, em sua maioria pessoas de baixo poder aquisitivo, se propunham a fazer procedimentos invasivos”, explicou o delegado.
Nota – Defesa do casal
Sobre os procedimentos estéticos realizados na clínica, todos os pacientes sempre foram tratados com profundo respeito e cuidado. A defesa e os investigados acreditam que todos os fatos serão devidamente esclarecidos, inclusive — mas não se limitando — aos procedimentos realizados em 2017, que só agora estão vindo a público. É necessário compreender o que ocorreu nesse intervalo de tempo. Esse entendimento é tanto um direito quanto um dever dos empresários, diante dos 8 anos de atuação no mercado e dos mais de 30 mil clientes atendidos e procedimentos realizados.
As publicações baseadas em informações fornecidas pela autoridade policial, de forma unilateral e sem a realização de perícia técnica com a participação de ambas as partes, promovem a execração pública dos investigados, tratando-os como se já estivessem condenados, sem que tenham tido acesso ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa. Tal postura fere gravemente os direitos humanos, desrespeitando normas internacionais protegidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, estabelecida em Haia, a qual está sendo acionada.
Quanto ao número crescente de pessoas que têm se manifestado, os investigados respeitam profundamente, mas é necessário analisar cada caso individualmente. Por exemplo, há pessoas que não seguiram as recomendações pós-procedimento; portanto, as consequências disso não se devem ao procedimento em si. Por isso, é essencial entender cada caso de forma isolada. A defesa também alerta para a importância de se realizar perícias em cada caso, com a participação de todas as partes envolvidas, incluindo os conselhos responsáveis, para garantir que todas as questões técnicas sejam devidamente validadas.
A decretação de prisão temporária é uma medida desproporcional e injustificável, especialmente diante da ausência de qualquer elemento concreto que impeça os investigados de responderem às acusações em liberdade. Vale ressaltar que, neste período sensível de Natal, essa decisão manteve um menino de apenas 7 anos afastado abruptamente de seus pais.
Por se tratar de um processo que tramita sob segredo de Justiça, a defesa não entrará no mérito das acusações, mas tem a absoluta certeza de que os fatos serão esclarecidos no processo, caso a caso.
Reforçam ainda que Karine Gouveia e Paulo César nunca tiveram a intenção de praticar qualquer crime.
Nota – Defesa do dentista
A defesa do dentista responsável técnico pela Clínica Karine Gouveia reitera sua confiança no esclarecimento completo dos fatos e na Justiça. Ele sempre atuou com responsabilidade e dentro dos mais elevados padrões éticos e profissionais.
Ressaltamos que todas as informações relevantes foram devidamente apresentadas às autoridades competentes e permanecemos à disposição para quaisquer esclarecimentos necessários.
Por fim, destacamos que qualquer julgamento precipitado deve ser evitado, respeitando o direito à ampla defesa e ao contraditório.
Nayara Caixeta – Firmes Caixeta Advogados
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