Demora em licitação e problemas para montagem atrasam serviço de balsa após queda de ponte entre TO e MA


Travessia por balsas não tem previsão dos órgãos oficiais para começar. Marinha afirma que a instalação da balsa será priorizada, mas normas de segurança da navegação não podem ser negligenciadas. Ponte JK no rio Tocantins, entre Aguiarnópolis e Estreito (MA), caiu em 22 de dezembro de 2024
Ana Paula Reihban/TV Anhanguera
A empresa de balsas anunciada pelo governo do Tocantins para fazer a travessia entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA) não entregou os documentos necessários para funcionar, segundo a Marinha do Brasil. O trecho está interditado desde a queda da ponte que liga o Tocantins ao Maranhão, pela BR-226. Conforme a contagem oficial, 12 pessoas morreram e cinco estão desaparecidas (veja quem são as vítimas abaixo).
A ponte JK caiu no dia 22 de dezembro. O governo do Tocantins chegou a anunciar data para o início da operação da balsa duas vezes, mas houve atrasos na construção dos acessos ao rio e na liberação de documentos. A empresa de balsas Pipes Navegações também divulgou um cronograma de início do serviço, mas os trabalhos ainda não começaram.
A Marinha afirma que a instalação da balsa será priorizada, mas que as normas de segurança da navegação interna não podem ser negligenciadas.
O g1 questionou a Pipes Navegações sobre a entrega da documentação exigida pela Marinha, que afirmou que as licenças e autorizações são de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
A Pipes disse que está participando de uma chamada pública e adiantando o processo de montagem das embarcações para, caso sejam os ganhadores, iniciarem a instalação no menor tempo possível.
O g1 questionou o Dnit a respeito da contratação da empresa que será responsável pela travessia, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), publicou um vídeo nesta quinta-feira (2) em que aparece conversando com Pedro Iran, proprietário da Pipes Navegações. Segundo o empresário, o período chuvoso e a sequência de feriados do final de ano em 2024 dificultaram a implentação da balsa.
“Eu tô preparanto uma [balsa] aqui pra descer até acima da barragem. Vai arrumar um porto lá pra começar a funcionar. Não vai 20 dias pra nós estarmos com ela rodando”, afirmou Pedro Iran.
O empresário disse ainda que é necessário desmontar a balsas para transportá-las, o que dificultaria o processo de logística e manuseio.
Segurança e normas técnicas
Além da documentação e licenças exigidas, uma série de obrigações e normas técnicas para o funcionamento das balsas também estariam pendentes, de acordo com a última atualização publicada pela Marinha na noite de quinta-feira (2).
Entre os requisitos técnicos, há a necessidade de construção de rampas de acesso para embarque e desembarque em cada margem do rio Tocantins.
Também é exigido a construção de pontos fixos de amarração, chamados atracadouros, para que o comboio balsa/empurrador permaneça estabilizado e bem amarrado à margem durante o carregamento e descarregamento.
A empresa deverá garantir um local seguro e adequado para os motoristas e passageiros esperarem pela travessia, já que eles não poderão permanecer dentro dos veículos. A balsa também deve ter todos os equipamentos de segurança necessários, como coletes salva-vidas.
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Crise no comércio e demissões
Trabalhadores e comerciantes da cidade de Aguiarnópolis enfrentam as consequências econômicas do desabamento da ponte. O trecho em Aguiarnópolis integra o corredor rodoviário Belém-Brasília, por onde passavam diariamente carretas com produção de grãos e animais de corte.
Atividades ligadas ao transporte foram as mais afetadas, incluindo postos de combustíveis. Desde o desabamento da ponte, as vendas reduziram de 70 mil litros de combustível para menos de 10 mil por dia.
“Hoje basicamente a gente atende prefeitura, os moradores da cidade e alguns moradores da região, então é uma situação bem complicada, né. Consequentemente o quadro também foi reduzido e tem uma turma de aviso [prévio] também, que foi a primeira medida tomada depois dessa situação, dando um total de 25% do quadro”, diz o gerente do posto, Thiago Silva Barros.
Posto de Combustível vazio após queda da ponte entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA)
Reprodução/TV Anhanguera
Dificuldade nas buscas
A profundidade e a escuridão são alguns dos desafios enfrentados diariamente pelos mergulhadores durante as buscas pelas vítimas do desabamento da ponte entre Tocantins e Maranhão.
Os trabalhos devem ser retomados nesta sexta-feira (3), depois de um dia inteiro de paralisação após a abertura das comportas da usina Hidrelétrica de Estreito. A medida foi devido ao grande volume de água e ao aumento da vazão no rio Tocantins.
A força-tarefa que atua nas buscas conta com homens da Marinha, dos Bombeiros do Tocantins, Maranhão, Distrito Federal e, mais recentemente, de São Paulo.
Marinha faz registro durante buscas por desaparecidos no rio Tocantins
A tecnologia tem sido grande aliada no trabalho, com drones, robôs e uma câmara hiperbárica. Mas os equipamentos não substituem a mão humana. A cada mergulho é preciso uma grande dose de coragem e determinação para tentar entregar o que as famílias das vítimas mais esperam: um desfecho e uma despedida digna.
Vítimas localizadas
Na terça-feira (24), o corpo de Lorranny Sidrone de Jesus, de 11 anos, foi encontrado no rio, segundo os bombeiros do Maranhão. Ela estava em um caminhão que transportava portas de MDF, com origem em Dom Eliseu, Pará.
Por volta das 9h, também foi achado o corpo de Kecio Francisco Santos Lopes, de 42 anos. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, ele era o motorista do caminhão de defensivos agrícolas.
Ainda na terça-feira (24), por volta das 11h20, o corpo de Andreia Maria de Souza de 45 anos foi encontrado. Ela era motorista de um dos caminhões que carregavam ácido sulfúrico.
No domingo (22), o corpo de Lorena Ribeiro Rodrigues de 25 anos foi localizado. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que ela é natural de Estreito (MA), mas morava em Aguiarnópolis (TO).
Um homem de 36 anos foi encontrado com vida por moradores e levado ao hospital de Estreito.
Na quarta-feira (25), foram localizados os corpos de Anisio Padilha Soares, de 43 anos, e de Silvana dos Santos Rocha Soares, de 53 anos.
Na manhã de quinta-feira (26), mergulhadores localizaram dois corpos dentro de um veículo no fundo do rio. Um dos corpos é de Elisangela Santos das Chagas, de 50 anos, e foi resgatado na sexta-feira (27), após se desprender e aparecer na superfície no rio. O segundo corpo é de Ailson Gomes Carneiro, de 57 anos, e foi resgatado por mergulhadores na manhã de domingo (29).
Rosimarina da Silva Carvalho, de 48 anos, teve o corpo foi localizado no final da tarde de quinta-feira (26) fora da área de mergulho, a aproximadamente 16 km do local do desabamento.
Dois corpos foram encontrados dentro de um veículo voyage branco no fundo do rio no domingo (29). As vítimas foram retiradas na noite de terça-feira (31) e identificadas como Cássia de Sousa Tavares, de 34 anos, e a filha Cecília Tavares Rodrigues, de 3 anos. Elas são esposa e filha do homem que foi resgatado com vida.
Durante as buscas de domingo (29), Beroaldo dos Santos, de 56 anos, foi localizado em uma cabine de um caminhão. A vítima foi retirada da água no fim da manhã de quarta-feira (1º).
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