Tempestades sobre solo mais frágil explicam deslizamentos que provocaram mortes em MG


A temporada de chuva no estado está mais intensa – diferentemente dos últimos dois anos. Minas Gerais enfrentou chuva pesada no fim de semana. Onze pessoas morreram soterradas.
Aílton Granja não esperava começar a semana no velório de cinco pessoas da família: a mãe, duas irmãs, a cunhada e a sobrinha, de 7 anos:
“É até difícil expressar. Uma dor terrível, que parece que não vai acabar”.
A família dele estava em uma casa que foi soterrada no domingo (12) de madrugada em Ipatinga, leste do estado. Dois sobrinhos dele se salvaram. Os deslizamentos de terra provocaram outras cinco mortes na cidade.
Os desabrigados foram levados para um estádio de futebol, onde, a todo momento, chegam doações de água mineral, alimentos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Eles também estão recebendo atendimento médico e apoio psicológico.
“Está na área de risco, está perigoso cair barranco lá também. Fora as árvores que têm lá”, conta o aposentado Renato da Silva Dias.
Na vizinha Santana do Paraíso, um outro deslizamento provocou a morte de uma mulher. Nesta segunda-feira (13) pela manhã, o governador Romeu Zema visitou as duas cidades. Ele afirmou que vem realizando obras contra as enchentes e prometeu ajuda financeira.
“Estaremos avaliando lá hoje, até amanhã no máximo, junto com a Secretaria de Ação Social, uma ajuda a essas famílias. Uma linha de crédito também para que possam recompor o estoque, alguma coisa que foi perdida, e continuar operando. No nosso governo, diversas obras já foram feitas”, afirma o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, PL.
Em Espinosa, no extremo norte de Minas Gerais, a chuva deixou 260 famílias desalojadas. Dois dos principais rios que cortam a cidade transbordaram. A chuva derrubou pontes e isolou uma comunidade inteira.
Deslizamentos
Tempestades sobre solo mais frágil explicam deslizamentos que provocaram mortes em MG
Jornal Nacional/ Reprodução
A temporada de chuva em Minas Gerais está mais intensa – diferentemente dos últimos dois anos. É o que afirma Lizandro Gemiacki, do Instituto Nacional de Meteorologia. Em Ipatinga, por exemplo, choveu 200 mm na madrugada do último domingo (12). É o volume esperado para o mês todo.
“A região é muito montanhosa, então o ar quando é forçado a subir nas montanhas, favorece a formação dessas nuvens, e a gente tem essa condição de instabilidade de grande escala. E aí junta com algumas características locais que vão amplificar essa ocorrência dessas chuvas mais intensas que causam esses transtornos”, explica Lizandro Gemiacki, meteorologista do Inmet.
Minas Gerais tem morro para tudo quanto é lado, e as cidades se expandiram por essas regiões, em relevos muito inclinados em que muitos moradores podem ter construído sem conhecimento das fragilidades do terreno. E, segundo especialistas, o tipo de solo comum nessas áreas é justamente o mais suscetível a deslizamentos.
A professora Cristiane Oliveira, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais, explica que, no estado, o terreno costuma ter: uma camada mais fina com material orgânico; uma, um pouco mais espessa; e a outra mais profunda até 50 m – considerada muito escorregadia. Elas estão sobre uma rocha. Com o desmatamento e construções – muitas vezes irregulares – nos morros, todo esse solo fica mais frágil. Quando chove muito, o terreno vai ficando cada vez mais pesado até ocorrer o deslizamento.
“Uso uma analogia falando de roupa. Quando a gente está com roupa molhada é muito mais pesado do que a roupa seca. Então, a influência urbana, o crescimento urbano com a retirada da vegetação e a construção de casas, tudo isso aumenta o peso do solo, com a chuva isso fica mais crítico”, explica Cristiane Valéria de Oliveira, professora do departamento de geografia da UFMG.
Um cenário que reforça a necessidade de conscientização:
“Para que quando a gente tenha um aviso de tendência de chuva de grande volume, essa população seja retirada antes que o escorregamento ocorra. Não importa se de cada dez vezes nove for alarme falso. Uma vai ser verdadeira. A gente precisa é investir mais em prevenção do que remediação”, afirma Cristiane Valéria de Oliveira.
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