Entenda a crise de abastecimento de energia na Ilha do Governador


Problemas constantes de abastecimento elétrico têm acontecido desde o dia 18 de julho. Moradores se organizam para tentar uma indenização pelos aparelhos queimados pelos picos de luz causados pela instabilidade no fornecimento. O Ministério de Minas e Energia criou um comitê de crise para acompanhar a situação. Entenda a crise de abastecimento de energia na Ilha do Governador
O serviço da concessionária Light tem gerado muita insatisfação na cidade do Rio de Janeiro, em especial para os moradores da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, por conta dos problemas constantes de abastecimento elétrico que tem acontecido desde o dia 18 de julho.
No início do ano, a mesma região já tinha sofrido com problemas de abastecimento de energia. Na crise atual, moradores que tiveram prejuízos se reúnem para tentar uma indenização pelos aparelhos queimados nas últimas semanas pelos picos de luz causados pela instabilidade no fornecimento.
Veja, abaixo, alguns pontos para entender as causas da crise de abastecimento no bairro:
Rede dos anos 70
A rede de abastecimento das Ilhas do Governador e de Paquetá é da década de 70. A companhia afirma estar investindo R$ 300 milhões na modernização da rede, com a construção de três linhas de alta tensão, que vão entrar em operação entre agosto e novembro.
O Ministério de Minas e Energia afirmou que a concessão da Light pode até não ser renovada criou um comitê de crise para acompanhar a situação. O ministro Alexandre Silveira disse ter alertado a Light sobre a urgente necessidade de revitalização do sistema.
As falhas vêm sendo acompanhadas no local por três servidores da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A agência, em março, aplicou multa no valor de R$ 28 milhões por não prestar serviço adequado, mas a concessionária ainda não efetuou o pagamento.
“É importante ressaltar: essa linha subaquática, que é de 1971, faltou planejamento! Porque se tivesse planejamento, já se sabia que é uma linha que não era moderna, tem que ter óleo diesel passando no centro da linha de transmissão para fazer resfriamento, e hoje a tecnologia que vai ser implantada não precisa de nada disso, é uma tecnologia altamente moderna”, explica Alexandre.
Redes de abastecimento antiga e nova da Ilha
Reprodução/TV Globo
O que diz a Light
O RJ2 foi até a sede da Light, no Centro do Rio, para cobrar explicações sobre o problema que já se estende há mais de seis meses. Em janeiro, a empresa anunciou investimentos para renovar as redes de transmissão e distribuição elétrica e informou que enquanto as obras estivessem em andamento, o abastecimento de luz seria garantido por linhas auxiliares que ficaram prontas em março. Ainda assim, as falhas continuam até agora.
Segundo Rodrigo Brandão, diretor da Light, quatro dos seis cabos submarinos e subterrâneos que levam energia para a região ficaram fora de operação nos últimos meses. A solução tem sido usar 170 geradores a diesel, que estão produzindo energia suficiente para atender 60% do consumo na Ilha do Governador.
“A partir da conclusão dessas obras, a Ilha do Governador vai ter um sistema elétrico como poucos no Brasil. Um nível de qualidade elevadíssimo com um grau de redundância equivalente aos melhores circuitos que tem hoje no país e no mundo e, gradativamente, a gente vai conseguir melhorar a prestação de serviço nas duas ilhas”, explica Rodrigo.
A concessionária afirma que o equivalente a 36% da energia que chega na Ilha do Governador acaba desviada por conexões irregulares. De acordo com Brandão, essas ligações clandestinas explicam boa parte das falhas recentes.
Especialista diz que investimentos vieram tarde
O professor Edísio Alves, especialista em energia, afirma que a Light deveria estar preparada para lidar com os desvios e que os investimentos chegaram tarde.
“A gente entende que o furto de energia realmente dificulta a operação do sistema. Mas, como a gente falou, o crescimento do consumo de energia ele é natural com o crescimento até do conforto das pessoas. Então, a Light tem que ter uma previsão clara de expansão desse sistema compatível com a expansão do consumo, justamente para evitar situações como essa, cenários como esse, onde simplesmente a energia não consegue chegar para o consumidor”, afirma.
O presidente da companhia disse que grandes interrupções não vão voltar a acontecer.
“Vão sofrer aquelas falhas de uma situação normal, padrão, como qualquer outra concessionária. Isso é natural do serviço. Agora interrupções em grande escala, de certa forma, não. Nós manteremos aqui, até novembro, até entrar o segundo alimentador de contingência da Ilha, toda a capacidade de geração para garantir isso: o fornecimento aos clientes que nós temos aqui na Ilha do Governador”, explica Brandão.
Empresa está em recuperação judicial
A Light está em recuperação judicial e tem uma dívida de R$ 11 bilhões. Ainda assim, de acordo com a concessionária, espera renovar a concessão em 31 municípios no estado do RJ, que vencerá dentro de 2 anos, em 2026.
“Ela está no momento agora de avaliação de renovação de concessão. E não haverá leniência por parte do governo caso os compromissos assumidos pela Light de ampliar os seus investimentos e melhorar a qualidade do serviço no serviço de distribuição de energia do Rio de Janeiro, em especial nessas regiões onde o problema é de longo prazo.” Conta o ministro Alexandre Silveira.
O RJ2 pediu para a Light sobre a questão das indenizações aos moradores da Ilha do Governador que tiveram prejuízos, mas até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
Enquanto isso, moradores esperam que as promessas virem realidade. Samuel, morador da Ilha do Governador, disse que tem desligado a geladeira e a televisão antes de sair para o trabalho, com receio dos picos de luz.
“Ontem, quando eu estava me arrumando para sair, deu aquele pico de luz. A geladeira quase que queima e a minha esposa correu para desligá-la. Alguns aparelhos de alguns amigos nossos têm sido danificados. Isso tem que ser ressarcido. Não podemos ficar sem ter os nossos aparelhos quando, na verdade, não temos culpa do que está acontecendo”, diz.
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