Parece IA, mas é real: conheça ave africana de aparência incomum


Fotógrafo de natureza brasileiro registra picatartes-da-guiné; espécie possui distribuição restrita e sofre com ações antrópicas Fotógrafo de natureza brasileiro registra Picatartes-da-guine
João Quental
“Parece até um desses bichos criados pela inteligência artificial”, “Parece uma escultura de biscuit”, “Parece um brinquedo de tão perfeita que são as linhas”, “Parece aquelas aves de massinha”. Essas foram algumas reações depois que o fotógrafo de natureza João Quental publicou o registro de uma ave que encontrou em uma expedição por Gana, na África, em dezembro do ano passado.
A espécie curiosa recebe o nome de picatartes-da-guiné (Picathartes gymnocephalus) e chama atenção pelas características físicas bem peculiares. A região da cabeça não possui penas e contrasta as cores preto e laranja.
Encontrar essa ave na natureza não é uma tarefa fácil, já que ocorre em uma região restrita e é super discreta, vocalizando pouco e andando pelo chão da mata em áreas de difícil acesso.
A região da cabeça não possui penas e contrasta as cores preto e laranja
João Quental
Esse desafio que encorajou o observador de aves a viajar até a região do Golfo da Guiné, no país africano, que é um centro de endemismo, mas uma área muito ameaçada e complicada de ir, já que enfrenta guerra civil, problemas de saúde, fora questões de desmatamento e mineração.
“Apesar de todas as dificuldades, essa região sempre me interessou e incendiava a minha imaginação. Surgiu a oportunidade e decidi passar 15 dias lá com a minha esposa, privilegiando a observação de aves, sendo a meta principal conseguir encontrar o Picartes”, explicou Quental.
Depois de percorrer a região de Ankasa, perto da fronteira com a Costa do Marfim, e desbravar o Parque Nacional Kakum, finalmente o casal chegou na comunidade de Bonkro, em Ashanti.
De acordo com o fotógrafo, há uma reserva pequena com alguns ninhos da espécie. Ao final do dia, grupos de picartes se reúnem em ninhos coletivos e é nesse momento que aumentam as chances de encontrar a espécie.
“Fomos até o local no final da parte, mas era uma floresta muito escura e os ninhos ficavam debaixo da rocha, então além de ser escuro, você ainda tem a própria falta de luz do local onde o ninho é feito. Conseguir ver e registrar a ave era uma missão realmente complicada”, relembra Quental.
A espécie forrageia no chão da floresta
João Quental
Perto das 18h, os primeiros picartes começaram a chegar e, com o equipamento adequado, o fotógrafo conseguia resolver o problema da baixa luminosidade, mas o foco ainda dificultava os registros, já que era muito difícil conseguir encontrar a ave e ainda posicionar certo.
Depois de muito esforço, as fotos aconteceram e o encontro foi eternizado.
É uma ave super icônica, com a morfologia muito curiosa. Foi um barato poder ver, porque realmente é daquele tipo de espécie que você tem que fazer quase que uma operação de guerra para você chegar no local, mas aí quando acontece, vale a pena! São aqueles minutos que fazem a viagem compensar com lucro qualquer tipo de sofrimento ou cansaço que tenha surgido.
No total, Quental registrou 270 espécies de aves em Gana, mas o fotógrafo ressalta que apesar de ser um país bem organizado, não oferece uma observação de aves tranquila.
“Tinha muita coisa interessante para ver, mas as áreas de florestas que sobraram são pequenas, com aves muito assustadas, por conta de caça e de captura. Então, embora as fotos não pareçam, na verdade foi bem complicado conseguir fazer algumas imagens, a maior parte das espécies na verdade ficavam muito longe ou sequer eram vistas”, finaliza.
A espécie
O picatartes-da-guiné ocorre principalmente na África Ocidental, em regiões de florestas tropicais de baixa altitude em países como Guiné, Libéria, Costa do Marfim, Serra Leoa e Gana.
É uma espécie considerada como Vulnerável pela União Internacional para Conservação das Espécies (IUCN), já que sofre com a exploração comercial de madeira, queimadas, desmatamento, mineração de ouro, manganês e bauxita e a caça.
O picatartes-da-guiné é uma espécie considerada como Vulnerável pela União Internacional para Conservação das Espécies (IUCN).
Zein et Carlo/iNaturalist
Alimenta-se principalmente de pequenas presas, como besouros, cupins, formigas e gafanhotos, bem como de minhocas e sapos. Forrageia em pares ou grupos no chão da floresta, retornando às rochas na maioria das noites para descansar em grupo.
Geralmente é uma ave silenciosa, mas emite sons baixos e outros chamados suaves de contato. Reproduz-se em colônias de geralmente cinco pares em faces rochosas, penhascos, tetos e paredes de cavernas.
O ninho é uma construção em forma de copo feita de barro, na qual folhas secas, fibras e galhos são embutidos.
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