Moradora que sobreviveu a deslizamento no Córrego da Bica há 15 anos fala sobre trauma

Cerca de 15 anos após o deslizamento de barreira que destruiu sua casa, Josefa Francisca de Melo volta à rua onde morou no Córrego da Bica, em Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, para acompanhar o trabalho de buscas para achar o corpo da sua antiga vizinha. Na madrugada desta quinta-feira (6), Maria da Conceição Braz de Melo, 51, e a filha Nicole Braz de Souza, 23, morreram soterradas após a barreira nos fundos da casa ceder.

Josefa chegou ao Córrego da Bica em 1996 e permaneceu com a família na comunidade até 2010. Ela lembra de um dia escuro, com muitos trovões, e do estrondo da barreira que antecipou a avalanche de lama. Era por volta das 17h30, pouco depois da dona de casa, de 51 anos, pegar as crianças na escola quando a barreira veio abaixo, sem tempo de salvar qualquer coisa a não ser os filhos e a própria vida.

“Em 5 minutos que eu saí, a casa desabou. Era um dia de chuva muito grande, as crianças tinham chegado da escola, mas eu já tava de alerta porque tava tendo muitos trovões. Eu escutei um estrondo muito grande da barreira, aí eu peguei meus quatro filhos, um eu saí no braço porque ele é deficiente, e depois desmoronou tudo”, relembra.

“Minha casa caiu numa quinta, no sábado, chegou os técnicos e disseram que esse córrego vai se ‘fechar’ porque vai arriar tudo”, relatou a moradora.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Trauma do deslizamento que fica na cabeça

Após perder tudo no deslizamento, Josefa morou na casa de parentes e esperou para receber o auxílio-moradia. Hoje, ela ainda mora no Córrego da Bica, próximo de onde morava em 2010, em um local alugado pelo dobro do que recebe no benefício, mas sem riscos de soterramento.

A moradora também conta que realiza tratamento psicológico para suportar o trauma que se perdura há 15 anos. E, mesmo em segurança, passou a enxergar os dias de chuva como dias de temor.

“É trauma que fica na nossa cabeça. Você imagina acordar com sua vida, com tudo e, de repente, você anoitece sem nada, sem ter para onde ir, só com os documentos e os quatro filhos pequenos”, descreveu.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Busca por moradia digna

Com apenas R$ 300 de auxílio, Josefa conta que trava uma batalha com a Prefeitura do Recife para conseguir uma unidade residencial. “Depois do auxílio-moradia, eles acham que já fez tudo por você”, reclamou a dona de casa.

No dia 24 de janeiro deste ano, ela protocolou um requerimento no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para chamar atenção do município e do Governo do Estado para sua realidade e a das demais famílias que sofrem com os dias de chuva no Córrego da Bica.

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