Problemas de trânsito e moradia são questões comuns para os mais de 60 mil eleitores de Camboriú, uma vez que a característica de “cidade dormitório” pode até ter se acentuado nos últimos anos. De acordo com o economista e professor da Univali, Daniel Correa da Silva, essa condição foi influenciada pelo aumento do valor do m² nas cidades vizinhas, como Balneário Camboriú, Itapema e Itajaí que lideram o ranking nacional de valorização imobiliária.
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Por conta desse fator, a grande mão de obra camboriuense vive o dia a dia passando mais tempo em outras cidades, onde enfrentam o trânsito caótico e a falta de um transporte público eficiente, por exemplo. Com isso, Daniel avalia que pautas desse gênero devem influenciar a agenda dos candidatos e a escolha dos eleitores:
“Talvez o destaque não seja tanto a questão do trânsito e da mobilidade, mas sim um serviço público de transporte, até porque não são tantas pessoas que têm carro próprio pra se deslocar. Existe também uma questão muito forte voltada à segurança, com as ciclovias, por exemplo, já que Camboriú não tem muito dessa estrutura”, comenta o economista.
Correa frisa que a articulação do transporte público entre os municípios da região é “muito mal pensada”, tendo poucas linhas, poucos horários e estrutura precária. Isso força os trabalhadores a optarem pelo deslocamento a pé, de bicicleta ou por aplicativo, muitas vezes dividindo o valor com colegas para que o gasto não vire uma “bola de neve” no bolso do trabalhador.
Na visão do doutorando em Economia, temas como educação e saúde também terão destaque no pleito eleitoral de 2024. Ele avalia que a cidade tem uma carência grande principalmente no serviço de educação infantil, com a falta de creches, bem como a falta de unidades básicas de saúde (UBSs). “Muitos dos pais e pessoas que moram em Camboriú e trabalham em cidades vizinhas são pessoas mais jovens, que vêm de outras regiões e não encontram aqui um atendimento básico de qualidade”, completa.

Sobre a idade dos eleitores, o professor explica que a migração recente de pessoas para o município não foi acompanhada da transferência dos títulos de eleitor. Dessa forma, há uma elevação na idade média dos votantes, ainda que a população seja composta por uma parcela considerável de jovens.
A comparação de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmam o comentário do professor: o censo demográfico de 2022 do IBGE apontou para uma população de 34 mil camboriuenses entre 15 e 34 anos, enquanto o número de eleitores registrados em 2024 foi de 22,1 mil na faixa etária dos 16 a 34 anos. Não houve variação significativa de votantes entre 2022 e 2024.
Outro fator de destaque é o aspecto religioso, uma vez que Camboriú sedia o Gideões Missionários da Última Hora, um dos maiores eventos evangélicos do Brasil. Daniel Correa afirma que isso “define o perfil das candidaturas e das bandeiras”, bem como leva os eleitores a “rivalizarem ou secundarizarem pautas de serviço público que são mais imediatas, dando preferência às temáticas ideológicas”. Na visão dele, essa característica é mais forte em Camboriú do que em outros municípios da região.
O professor e economista reforça ainda que muitos grupos sociais, como associações de bairros, de moradores, conselhos de saúde e educação, acabam sendo auxiliados por instituições religiosas. Essa influência é capaz de interferir na tomada de decisões, na escolha de pautas e de candidatos. Um exemplo seriam os agentes comunitários de saúde e os conselheiros tutelares, que podem ser utilizados para “espalhar” ideais políticos na cidade.

Sobre a participação de Edson Piriquito (MDB) e Leonel Pavan (PSD) nas eleições municipais de 2024, Daniel Correa afirma que ambos os candidatos podem tentar transmitir a mensagem de que a modernidade de Balneário Camboriú poderia ser transplantada para Camboriú por meio daqueles que antes foram governantes da cidade vizinha. “Isso se trata de uma ilusão absoluta, porque se tratam de municípios muito diferentes e com importâncias reginais diferentes, com estruturas diferentes”, contesta o professor.
É importante destacar que 53% do eleitorado camboriuense é formado por mulheres. Quanto ao estado civil, 35% são casados e 56% solteiros, enquanto na educação apenas 28% completaram o ensino médio e 23% começaram, mas não terminaram o ensino fundamental.
Autor: Luiz Lerner, estagiário – Jornalismo