Novo governo da Síria é acusado de limpeza étnica


A ONU recebeu denúncias de que mulheres e crianças foram assassinadas. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de 1,4 mil pessoas morreram desde quinta (6). Entre elas, 973 civis assassinados, a maior parte da minoria alauíta. ONU recebe denúncias de mulheres e crianças assassinadas em massacre na Síria contra minoria alauíta
A ONU recebeu denúncias de um massacre contra mulheres e crianças da minoria alauíta, na Síria.
As imagens mostram os corpos nas ruas de Latakia. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais de 1,4 mil pessoas morreram desde quinta-feira (6). Entre elas, 973 civis assassinados, a maior parte da minoria alauíta.
O governo – de maioria sunita radical – diz que o Exército fazia uma operação na região quando foi atacado por homens ligados ao regime do ex-ditador Bashar al-Assad. Os alauítas negam o ataque e afirmam que foram vítimas de um massacre étnico.
A violência se espalhou no fim de semana pela costa mediterrânea, região noroeste da Síria. Imagens que circulam em um canal na internet mostram um caminhão jogando corpos em uma ribanceira. Em outra, um homem convoca extremistas a massacrar o que chama de “porcos” – se referindo aos alauítas. Em mais uma campanha de humilhação, homens presos são obrigados a engatinhar enquanto apanham. Não foi possível confirmar de forma independente a autenticidade desses vídeos. Outras imagens mostram homens fortemente armados destruindo um restaurante na cidade de Jableh.
Neste domingo (9), o governo ordenou a retirada das tropas e, nesta segunda-feira (10), declarou que concluiu a operação militar no oeste do país – organizada, segundo as autoridades, para eliminar aliados do regime de Bashar al-Assad. Mas segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, grupos de homens armados, afiliados ao governo, ainda estão na região perseguindo moradores.
Quem sobreviveu stá com medo de sair de casa. Só a busca por comida movimenta as ruas de Latakia. Uma senhora conta que tem 13 pessoas em casa, mas faltam pão, água e eletricidade. Mohamed diz que só quer viver em paz e segurança:
“Não queremos atacar ninguém. Queremos apenas conviver com amor”.
Novo governo da Síria é acusado de limpeza étnica
Jornal Nacional/ Reprodução
Desde dezembro de 2024, a Síria é governada por Ahmed al-Shara, presidente interino do país e chefe do grupo HTS, que depôs o ditador Bashar al-Assad. O grupo já foi ligado a duas organizações terroristas: a Al-Qaeda e a Frente al-Nusra. Os alauítas são uma minoria muçulmana que corresponde a 10% da população síria. A família de Bashar al-Assad seguia a linha alauíta.
Em entrevista à agência de notícias Reuters, o presidente interino afirmou nesta segunda-feira (10) que aliados do ex-ditador e agentes estrangeiros iniciaram a onda de violência, e disse que a morte de centenas de alauítas ameaça o que chamou de “missão de unificar o país”.
“A Síria é um Estado de direito e a lei seguirá seu curso. Não aceitaremos que nenhum sangue seja derramado injustamente ou que isso fique impune”, diz Ahmed al-Shara.
O pesquisador de Harvard e especialista em Oriente Médio Hussein Kalout avalia que as minorias étnicas e religiosas da Síria não estarão seguras:
“Trata-se de um governo de terroristas. O atual governo da Síria é um governo de terroristas ligado ao ISIS, à Frente al-Nusra e à Al-Qaeda. É disso que nós estamos tratando hoje. Não é um governo de pessoas com um passado revolucionário, democrático. Essas pessoas exerceram uma política de limpeza étnica no passado e hoje estão exercendo essa mesma prática de limpeza étnica. Elas não estão preocupadas nem pacificar a Síria e muito menos em proteger a minoria, o direito das minorias”.
O Conselho de Segurança da ONU se reuniu nesta segunda-feira (10) a portas fechadas para discutir essa nova crise na Síria. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu a proteção dos civis, disse que o banho de sangue na Síria deve parar imediatamente e os responsáveis devem ser punidos.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores declarou que o Brasil expressa repúdio à violência na Síria, sobretudo contra civis, e reitera a posição em favor de uma transição política pacífica e inclusiva. O Itamaraty recomendou que brasileiros deixem o país.
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