Curso de Educação do Campo promove aula inaugural da turma 2025 no quilombo Vidal Martins

Reitor afirmou que o curso era um marco para a Universidade (Fotos: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC)

As atividades do Curso de Educação do Campo – Turma Quilombo Vidal Martins – da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foram oficialmente iniciadas nesta quinta-feira, 20 de março, em uma cerimônia no bairro Rio Vermelho, em Florianópolis (SC). O evento reuniu autoridades acadêmicas, lideranças quilombolas, docentes, estudantes e membros da comunidade tradicional. Logo após a solenidade, o antropólogo e analista pericial do Ministério Público Federal (MPF) Marcos Farias de Almeida proferiu a palestra da aula inaugural do curso.

A presença de representantes da UFSC simbolizou para a comunidade não apenas o início de uma nova jornada acadêmica, mas a continuidade de uma luta histórica por reconhecimento, justiça e respeito aos territórios quilombolas e outros tradicionais. Participaram do evento o reitor Irineu Manoel de Souza; as pró-reitoras de Graduação e Educação Básica (Prograd), Dilceane Carraro; de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), Leslie Sedrez Chaves; de Assistência Estudantil (PRAE), Simone Sobral Sampaio; os coordenadores do curso, Roberto Antônio Finatto e Emeson Tavares da Silva; o chefe de Departamento, Edson Marcos de Anhaia; e o diretor e vice-diretor do Centro de Ciências da Educação (CED), Hamilton de Godoy Wielewicki e Alexandre Toaldo Bello, respectivamente.

O professor Emeson, coordenador do acordo de cooperação entre a UFSC e comunidade quilombola Vidal Martins, ressaltou “o compromisso do curso com os territórios tradicionais, a educação emancipadora e a justiça social”, incorporando elementos como vínculo com a realidade, alternância, agroecologia, áreas de conhecimento, e relação teoria-prática. O docente também relembrou a trajetória de resistência de Vidal Martins, um homem negro escravizado nascido em 1845, cuja vida foi marcada pela luta pela terra e pela preservação da cultura quilombola. “Essa memória reforça a relevância do curso na valorização dos saberes e práticas dos povos do campo, das águas e das florestas”, afirmou.

Turma 2025 do curso é formada em sua maioria por quilombolas, professoras da Educação Escolar Quilombola e por egressos da EJA- Quilombola

O reitor Irineu reforçou a dimensão histórica e simbólica do momento em sua fala. “Este é um marco para a nossa Universidade e para a comunidade. Estamos nos abrindo para aprender com o conhecimento ancestral, com as práticas e os saberes das comunidades tradicionais. Trata-se de uma oportunidade única de construirmos juntos uma educação mais inclusiva, mais humana e profundamente comprometida com a transformação social”, concluiu.

Educação do Campo

As aulas da turma 2025 do curso de Educação do Campo serão realizadas no quilombo Vidal Martins. Em 16 anos, esta é a primeira turma pensada para um quilombo, além de ser também a primeira turma da área de Ciências Humanas e Sociais que o curso oferta. A turma é formada em sua maioria por quilombolas daquele território, professoras que atuam na Educação Escolar Quilombola e por egressos da EJA- Quilombola (Educação de Jovens e Adultos).

A Turma Quilombo Vidal Martins integra a Licenciatura em Educação do Campo, oferecida pela UFSC desde 2008, vinculada ao Instituto de Educação do Campo e Desenvolvimento Territorial Sustentável (Instituto Educampo) e ao Centro de Ciências da Educação (CED). O curso é fruto da articulação de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que reivindicam uma educação pública que respeite as especificidades dos povos do campo, das águas e das florestas. Essa abordagem busca garantir que o direito à educação seja exercido no território onde essas populações vivem, valorizando suas culturas, conhecimentos e necessidades sociais.

Antropólogo e analista pericial do Ministério Público Federal (MPF) Marcos Farias de Almeida proferiu a aula inaugural

Além de promover uma educação que dialogue com a diversidade cultural e territorial, o curso reconhece que o processo de aprendizagem vai além do ambiente escolar, abrangendo experiências e saberes adquiridos em diferentes espaços e práticas sociais. A valorização das identidades quilombola e indígena também é central nessa proposta pedagógica, fortalecendo o respeito às tradições e à história das comunidades.

Quilombo Vidal Martins

O Quilombo Vidal Martins, localizado no bairro São João do Rio Vermelho, foi reconhecido oficialmente pela Fundação Cultural Palmares, em 2013, como a primeira comunidade quilombola da da Ilha de Santa Catarina. Sua história remonta a 1831, com a construção da Capela de São João Batista do Rio Vermelho, um espaço profundamente ligado à memória dos africanos escravizados na região.

O nome do quilombo homenageia Vidal Martins, uma figura central da comunidade, nascido em 1845. Filho de Joana, uma mulher escravizada que conquistou a alforria após a morte de seu senhor, Vidal simboliza a luta e a resiliência das populações quilombolas. Ele formou família na região, que hoje é habitada por cerca de 30 famílias, as quais seguem preservando práticas culturais, modos de vida e um vínculo profundo com o território.

Apresentação artística integrou programação da solenidade de abertura do semestre

A comunidade mantém tradições como a pesca artesanal, a agricultura, o artesanato com renda de bilro e a religiosidade de matriz africana – expressões culturais que enfrentam desafios constantes diante do racismo estrutural e da marginalização. Apesar disso, o Quilombo Vidal Martins segue como um espaço de resistência, reafirmando sua importância histórica, cultural e social para o estado e para o Brasil.

Mais informações: educampo.grad.ufsc.br

Leia mais: Curso Educação do Campo assina acordo de cooperação com tradicional comunidade quilombola

Rosiani Bion de Almeida | Equipe SECOM | UFSC

Confira mais fotos:






Adicionar aos favoritos o Link permanente.