“Não temos água para captar no Rio Camboriú”, alerta professor sobre risco de desabastecimento em Camboriú e Balneário Camboriú

As ações de cuidado e preservação da água não podem ocorrer apenas no Dia Mundial da Água ou, no bom português, apenas uma vez por ano. Eles devem fazer parte das ações diárias da sociedade. A consciência de que, sem ela, não é possível fazer nada é essencial. E quando falamos em nada, é nada mesmo: comida, higiene, comércio, construção civil – qualquer empreendimento não existe sem ela.

No caso do Rio Camboriú, fonte única de abastecimento para as cidades de Balneário Camboriú e Camboriú, que juntas ultrapassam 240 mil habitantes, essa preocupação se torna ainda mais necessária, pois, no momento, não há outra alternativa para o abastecimento dessas cidades. Conforme explica o professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Paulo Ricardo Schwingel, cuidar da água é também cuidar da economia dos municípios nos próximos anos.

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Segundo o professor, desde 2011 são realizadas projeções sobre o consumo de água na região. Naquele ano, especificamente, a professora Adelita Granemann previu que, a partir de 2025, os municípios poderiam enfrentar problemas com o abastecimento de água. O motivo seria uma demanda hídrica maior que a disponibilidade do recurso.

Já em 2019, esse projeto foi refeito pelo professor Schwingel, confirmando o resultado do estudo apresentado em 2011: já neste ano, os municípios podem sofrer com a falta de água. De acordo com o professor, atualmente o Rio Camboriú depende das chuvas e da constância delas, pois, em caso de estiagem por três ou quatro semanas, há problemas no abastecimento.

Ainda segundo Schwingel, esse estudo já foi apresentado na Câmara de Vereadores, na gestão anterior, bem como aos ex-prefeitos de Camboriú e Balneário Camboriú.

Foto: divulgação

“Esse alerta foi dado, e hoje a grande alternativa que temos para essa situação é o Parque Inundável Multiuso em Camboriú”. Conforme explicado Schwingel, o parque tem duas funções. A primeira é servir como reserva de água bruta para tratamento e uso da população. Já a segunda é reduzir o impacto das enchentes.

No entanto, ele aponta que, nesta situação, deve haver um protagonismo maior da sociedade como de todos, especialmente dos empresários. “Temos que dar outros passos, e esses grandes empresários têm que ter um protagonismo, porque, se um setor como, por exemplo, a construção civil causar algum tipo de investimento nesse setor, ele garantirá seu próprio negócio para as próximas décadas”, indicou.

Outro exemplo recomendado pelo professor é o alargamento da faixa de areia em Balneário Camboriú. Com o passar dos anos, a valorização dos imóveis à beira-mar já compensou o investimento feito na época. “Então, quando se fala de água, que sem ela não existe nenhum tipo de empreendimento, é fundamental que os diversos setores assumam um protagonismo maior e que as prefeituras tomem ações para que o projeto realmente seja levado adiante”, completou.

Qual a situação real do Rio Camboriú?

Diversas versões sobre a situação do Rio Camboriú foram apresentadas por instituições e governanças. Alguns dizem que o rio tem água, mas não consegue captá-la. Sob outra perspectiva, o Rio Camboriú consegue captar, mas não consegue tratar a quantidade necessária. Em outra versão, o problema é que o rio já não tem mais água para captar e tratar.

O professor Schwingel afirma que essa última alternativa é a correta, pois não há mais água para ser retirada do Rio Camboriú. “Na verdade, não temos água para captar no Rio Camboriú. Hoje temos uma única outorga, que é da Emasa (Empresa Municipal de Água e Saneamento), e ela é muito superior ao permissível pela disponibilidade de água”.

Conforme explicado por Schwingel, a vazão do rio é calculada com base no mecanismo de vazão Q95, que representa o volume disponível em 95% do tempo. Nesse cálculo, é permitido usar apenas 40% da água; porém, atualmente, está sendo usado praticamente 100% dessa vazão.

“Ou seja, se olharmos para a legislação e para as diretrizes das leis associadas aos recursos hídricos, não podemos ter mais nenhum tipo de outorga. A outorga da Emasa já é uma exceção, pois se trata de uma questão de segurança pública”. Para ele, o Rio Camboriú não tem vazão suficiente para que outras outorgas sejam concedidas, e o volume já outorgado à Emasa não pode ser superado.

A explicação para isso, segundo ele, é simples: a cada gota que cai nas zonas de morrarias (nascentes dos rios), ela não permanece mais de 24 horas dentro da Bacia Hidrográfica, sendo rapidamente perdida no mar.

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Ainda segundo o professor, a solução não está em conceder outorgas incompatíveis com a vazão do rio, mas sim em focar no abastecimento de água bruta do Rio Camboriú, que é de boa qualidade.

Projeto Produtor de Água

Um dos projetos citados pelo professor que trabalha na proteção das nascentes do Rio Camboriú é o Projeto Produtor de Água. Atualmente, conta com 27 produtores que preservam uma área de aproximadamente 1.400 hectares. O projeto é realizado pela Emasa, que investe anualmente mais de 1 milhão de reais na iniciativa.

foto: divulgação

“Proteger as nascentes, preservar as morrarias e garantir a segurança hídrica são ações essenciais. Não podemos reduzir ainda mais a vazão do rio, porque, se essas nascentes forem prejudicadas, precisamos refazer os cálculos de disponibilidade hídrica, e isso não seria nada bom”, finalizou Schwingel.


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