
Ao ‘retreinar’ as células do sangue, os cientistas acreditam que são capazes de ‘desligar’ a artrite reumatoide. A ex-enfermeira Carol Robson descreve a participação no ensaio clínico como um ‘privilégio’
BBC
Pacientes estão participando de um ensaio clínico que os cientistas esperam que possa levar à cura da artrite reumatoide.
O estudo AuToDeCRA-2 busca provar que é possível treinar “comandantes” de glóbulos brancos — chamados de “generais” do sistema imunológico — para ordenar que outras células “soldados” parem de atacar tecidos saudáveis.
O professor de reumatologia clínica John Isaacs, que estuda a condição há 35 anos e está liderando a pesquisa, acredita que isso poderia tornar possível “desligar” a artrite reumatoide.
Participante do estudo, Carol Robson, de Jarrow, na Inglaterra, diz que a pior parte de viver com a doença é a dor — mas se a pesquisa ajudar a aliviar o sofrimento, “vai ser maravilhoso”.
O estudo, financiado pela instituição beneficente Versus Arthritis e pela Comissão Europeia, está sendo conduzido pela Universidade de Newcastle e pelo Hospital Universitário de Newcastle.
“É pioneiro”, afirma Isaacs, que dá aula na Universidade de Newcastle.
“Há apenas um ou dois outros grupos no mundo fazendo um trabalho semelhante.”
Treinar ‘generais’ para manter a calma
Neste estudo mais recente, agora em sua segunda fase, determinadas células são isoladas do sangue de um paciente.
Isaacs explica que há diferentes tipos de células que se unem, como um Exército de soldados, para atacar uma infecção ou doença.
Elas recebem instruções dos glóbulos brancos conhecidos como células dendríticas, às quais ele se refere como os “generais” do sistema imunológico.
Quando estes generais percebem o perigo, ficam agitados e enviam o sinal de ataque, mas quando não há perigo detectado, eles permanecem calmos, e instruem o Exército a ignorar os tecidos saudáveis.
Quando isso dá errado, causa doenças como a artrite reumatoide.
Ao longo de uma semana, os glóbulos brancos do paciente são cultivados em laboratório e treinados para se parecerem com os generais “calmos”, de modo que, quando devolvidos ao paciente, eles comandam os soldados para que parem de atacar suas articulações.
“Com o tempo, este tratamento pode proporcionar benefícios significativos para as pessoas que sofrem de artrite reumatoide, ‘desligando’ a doença”, explica Isaacs.
John Isaacs vem trabalhando no tratamento experimental há 20 anos
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Entre as cerca de 450 mil pessoas na Inglaterra que vivem com a condição, está a ex-enfermeira Robson, de 70 anos. Ela acorda todas as manhãs com dor.
Antes de ser diagnosticada, ela colocava as mãos em pacotes de ervilhas congeladas na tentativa de encontrar algum alívio.
Atualmente, ela toma medicamentos imunossupressores, que, segundo ela, ajudam um pouco, mas desde que recebeu a injeção de glóbulos brancos “treinados”, acredita que está sentindo menos dor.
“Será que é por que eu quero muito que funcione? Mas, realisticamente, acho que está melhor”, diz ela.
“Se este estudo conseguir ‘desligar’ a artrite reumatoide, vai ser maravilhoso.”
“É um privilégio fazer parte de algo que é, na verdade, um grande avanço — se der certo.”
Cientistas da Universidade de Newcastle separam os glóbulos brancos do sangue dos pacientes
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O resultado da pesquisa em Newcastle está sendo amplamente monitorado, à medida que pode ter implicações enormes para os 18 milhões de pacientes com artrite reumatoide ao redor do mundo.
Isaacs afirma que, se for bem-sucedido, o estudo também pode ter implicações para outras doenças autoimunes, como diabetes ou esclerose múltipla.
“Trata-se de uma área de pesquisa que descrevemos como reeducação do sistema imunológico.”
Os dois primeiros ensaios clínicos são pequenos — no total, cerca de 32 pacientes foram envolvidos — e mais pesquisas são necessárias, mas se apresentar sinais de sucesso, outro estudo maior será realizado.
Mesmo que tudo saia como planejado e o tratamento demonstre reeducar o sistema imunológico, ainda pode levar de cinco a dez anos para que os pacientes tenham acesso a ele.
Mas Isaacs, que dedica sua carreira à condição, afirma que ele e sua equipe ficariam imensamente orgulhosos por terem desenvolvido o tratamento.
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