Masking em mulheres autistas: a camuflagem que dificulta o diagnóstico precoce

O masking, ou camuflagem, é uma estratégia involuntária utilizada principalmente por mulheres para esconder ou disfarçar características do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse fenômeno ocorre porque muitas desenvolvem, ao longo da vida, métodos que tornam o autismo menos perceptível para os outros. Como consequência, diversas mulheres recebem um diagnóstico tardio ou sequer sabem que podem estar dentro do espectro.

O dia 2 de abril marca o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, trazendo à tona discussões importantes sobre o tema e a necessidade de ampliar o conhecimento sobre o masking em mulheres autistas.

Para entender melhor essa realidade, o LeiaJá conversou com a neuropsicóloga Natália Lima, que explica: “Desde cedo, meninas costumam ser mais incentivadas a observar e imitar comportamentos considerados socialmente aceitáveis. Além disso, elas tendem a desenvolver maior atenção às regras sociais e ao comportamento dos outros, o que favorece a criação de estratégias de camuflagem”. Segundo Natália, esse fenômeno contribui para que o autismo passe despercebido por familiares, professores e até profissionais de saúde, dificultando o diagnóstico precoce.

Diagnóstico tardio pode trazer alívio

Embora o TEA, em alguns casos, seja identificado tardiamente, o diagnóstico pode trazer autoconhecimento e alívio para mulheres que passaram anos se sentindo incompreendidas ou enfrentando desafios emocionais.

“Sem entender suas dificuldades, muitas mulheres crescem se sentindo ‘erradas’, ‘estranhas’ ou inadequadas, o que pode afetar profundamente a autoestima. Além disso, podem receber diagnósticos equivocados, como ansiedade ou depressão, que não contemplam o quadro completo”, explica a neuropsicóloga.

Esse é o caso da jornalista Rebeka Bezerra, que começou a suspeitar que era autista após o diagnóstico das filhas. Sua jornada iniciou quando a filha mais nova, Vivian, apresentou atraso para andar e falar aos dois anos de idade. Ao buscar mais informações sobre o TEA, Rebeka terminou migrando de profissão e se tornou neuropsicopedagoga.

Além disso, ela percebeu padrões semelhantes em sua filha mais velha, Laila, que já havia sido diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Com o tempo, os sinais se tornaram mais evidentes, impactando o rendimento escolar da menina. “Ela tem que usar abafador para conseguir fazer as atividades em sala de aula. Infelizmente, os colegas zombam dela por isso, e às vezes ela chora e não quer ir à escola”, relata Rebeka.

Masking em mulheres autistas: a camuflagem que dificulta o diagnóstico precoce
Foto: Arquivo Rebeka Bezerra

Com o diagnóstico definitivo das filhas, Rebeka começou a perceber traços do espectro em si mesma. O reconhecimento de sua condição foi um divisor de águas: “Foi libertador me conhecer melhor e entender que algumas manias que eu achava que todo mundo tinha, na verdade, eram características do TEA”, conta.

Ela também destaca como o masking a acompanhou ao longo da vida: “Sempre precisei me camuflar para me encaixar em determinados grupos, seja na escola, no trabalho ou na faculdade. Eu fazia de tudo para não parecer ‘esquisita’, mas já me achavam diferente”.

Principais sinais de autismo em mulheres

Natália Lima explica que os sinais do autismo em mulheres podem ser mais sutis. “Muitas vezes, elas têm um bom desempenho escolar, são verbalmente fluentes e aparentam ter amizades. No entanto, por trás disso, podem enfrentar dificuldades profundas na interação social, para compreender ironias, manter vínculos duradouros ou lidar com situações imprevistas.”

Outros sinais comuns incluem:

  • Interesses intensos e específicos, muitas vezes voltados para temas socialmente aceitos, como literatura ou animais;
  • Hipersensibilidade sensorial (a sons, luzes, texturas);
  • Dificuldades com mudanças de rotina;
  • Esgotamento após interações sociais;
  • Sensação de estar constantemente “atuando” para se encaixar.

As consequências da camuflagem autista

“A camuflagem autista, ou masking, é um esforço consciente ou inconsciente para esconder traços do autismo e se encaixar socialmente. Isso pode envolver forçar contato visual, imitar expressões e gestos de outras pessoas, decorar falas para conversas ou reprimir comportamentos naturais, como estereotipias”, explica a neuropsicóloga.

Embora essas estratégias possam ajudar na aceitação social, elas têm um custo emocional elevado. A pessoa pode desenvolver ansiedade, depressão, exaustão e uma sensação constante de não pertencimento. A longo prazo, o masking pode comprometer a saúde mental e dificultar a construção de uma identidade autêntica.

Diagnóstico na vida adulta

“O diagnóstico tardio é bastante comum, especialmente entre mulheres. Muitos dos critérios para diagnósticos foram baseados em estudos com meninos, o que fez com que outras formas de expressão do autismo ficassem invisibilizadas”, esclarece Natália Lima.

Na vida adulta, o diagnóstico é feito por uma equipe especializada, geralmente composta por psicólogos, psiquiatras e neurologistas. O processo inclui entrevistas clínicas, testes neuropsicológicos e análise da história de vida da pessoa, podendo contar também com relatos de familiares.

“Receber um diagnóstico na fase adulta pode ser libertador. Muitas mulheres relatam que finalmente conseguem entender aspectos da sua trajetória que antes pareciam inexplicáveis. Isso permite reconstruir sua narrativa pessoal de forma mais compassiva e alinhada com quem realmente são”, conclui a neuropsicóloga

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