A construção do Senna Tower em Balneário Camboriú, maior prédio residencial do mundo, dividiu opiniões de especialistas. Entre os impactos positivos citados estão a geração de emprego e o turismo, enquanto os negativos variam entre o sombreamento e a infraestrutura do município.
O Portal Menina conversou com um arquiteto, uma engenheira ambiental, um advogado ambiental e técnicas do EMA. Com 135 andares e 544 metros de altura, o Senna Tower é um empreendimento da FG e estará localizado na avenida Atlântica.
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Para entender os impactos da construção deste empreendimento, o advogado Eduardo Ribeiro, especialista em direito ambiental, informou ser necessário compreender o que é o licenciamento ambiental. Emitida pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina, a licença deve ser aprovada ainda na fase de planejamento, antes do início da obra.
O licenciamento ambiental avalia os impactos de uma atividade ou empreendimento no meio ambiente. Entre os assuntos relacionados ao projeto, o advogado destacou que são avaliados o uso de recursos naturais, a emissão de poluentes, os riscos ambientais e os impactos na fauna e na flora, além das medidas mitigatórias e as viabilidades socioeconômicas.
“Um edifício de grande porte é submetido a regras de licenciamento ambiental. Dentro dessas regras, nós temos uma série de avaliações de requisitos que o licenciamento vai impor e que devem ser cumpridos”, explicou Ribeiro.
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Uso de recursos naturais e emissão de poluentes
A engenheira ambiental Letícia Rabelo expõe que entre os impactos causados na construção de um edifício e, principalmente, pela magnitude do Senna Tower, está a geração de resíduos e a poluição do ar.
As técnicas do escritório EMA, engenheira civil Juliana Wielens, engenheira ambiental Jordana W. Gochinski e a arquiteta Monique Di Pietro de Oliveira também elencaram a poluição sonora.
Além dos impactos durante a construção, há também os efeitos quando o maior prédio residencial do mundo já estiver em pleno funcionamento. Na parte da operação, as técnicas listaram, por exemplo, o tratamento de esgoto.
Já a engenheira Letícia lembrou sobre a possibilidade da falta de água para Balneário Camboriú e Camboriú, que, atualmente, já é preocupante. “Quanto essas construtoras acham que um apartamento desse vai valer se não tiver água?”, questiona.
Sombreamento na praia e impactos na fauna e flora
Um edifício de 135 andares tem a capacidade de criar um grande sombreamento na Praia Central de Balneário Camboriú. Para o arquiteto Luciano Tricárico, o sombreamento pode afetar, inclusive, a fauna e a flora da cidade.
“A gente sabe que a faixa de areia tem que estar insolada pelos organismos bióticos e abióticos. Não é só o sujeito que vai ficar prejudicado por conta do sol, que não vai poder tomar sol e se preparar para o verão. Não é só isso”, explicou.
Letícia corrobora com o que diz o arquiteto. Para ela, com o alargamento da faixa de areia, os impactos do sombreamento dos prédios foram reduzidos. Porém, com os arranha-céus cada vez maiores, a problemática pode retornar ao município.
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Mobilidade
Com a avenida Atlântica e a avenida Brasil de faixas duplas e as principais transversais entre elas de pista simples, a construção do Senna Tower, com 228 apartamentos, pode gerar um impacto no trânsito de Balneário Camboriú, que já sofre com o número de automóveis na cidade.
O arquiteto cita que, geralmente, prédios desse porte possuem mais do que apenas uma vaga de garagem, chegando a seis ou sete. “ Cresce o número de automóveis verticalmente, mas a via não cresce. Assim vai dar problema. A gente já vive isso em Balneário”.
Para Tricárico, a solução para este problema enfrentado na cidade litorânea seria investir o valor pago pela outorga onerosa – instrumento urbanístico que permite pagar para construir acima do limite – em operações urbanas consorciadas.
“Essa questão de automóveis é urgente. Se você não tiver um retorno, com essa mitigação que a outorga onerosa pode fazer, eu acho que a gente vai estar dado à falência”.
A engenheira não se limita às vias para automóveis. Um dos questionamentos dela é referente a ciclovia, principalmente com o aumento no uso de ciclomotores – motos ou patinetes elétricos. Além das melhorias nas vias, também é necessário, para ela, um transporte urbano adequado focando, principalmente, aos que irão trabalhar no edifício.
Medidas mitigatórias
A partir dos impactos ambientais levantados no processo de licenciamento, são elencados também as ações mitigatórias para esses impactos. De acordo com o advogado, quanto maior o porte do empreendimento, em tese, mais impactos irá causar e, consequentemente, maiores deverão ser as medidas impostas, de compensação e monitoramento durante a operação.
Um exemplo utilizado pelo advogado foi o da obra de alargamento da faixa de areia em Balneário Camboriú, que também passou por licenciamento ambiental. Na ocasião, foram determinadas diversas condicionantes para que a obra saísse do papel. “Foi necessário a implantação de uma série de programas de monitoramento, de revegetação, inclusive, como, por exemplo, a restinga”.
No caso da construção dos edifícios é a mesma lógica. O advogado ainda informou que no caso de Balneário Camboriú, que já possui uma zona urbana consolidada, muitas vezes o empreendimento não irá causar prejuízo à fauna e à flora, mas causará impactos no trânsito, sombreamento e ventilação, por exemplo.
Uma das formas de mitigação que o empreendimento pode adotar é a compensação financeira, sendo o caso previsto na legislação de Balneário Camboriú. “Ou seja, existe uma contrapartida financeira para o município, para que o município, também, em tese, administre esse recurso em favor dos seus contribuintes”.

Geração de empregos e turismo
Entre as visbilidades socioeconômicas, também previstas na fase do licenciamento ambiental, está a geração de emprego. De acordo com o arquiteto, esse impacto diz respeito, além de todos os que são contratos para executar o projeto e a obra, a uma mão de obra qualificada para exercer a função de construir um edifício com tecnologias voltadas a prédios altos, sobretudo ao se falar da fundação e ventilação.
Em nota, a construtora informou que para a construção será utilizada uma técnica de fundação inédita no mundo. A inovação surgiu devido à necessidade, visto que o Senna Tower fica sobre um maciço rochoso classificado como um dos mais rígidos do mundo.
Para a construção estão sendo implementadas estacas do tipo Auger Caster, que terão mais de 40m de profundidade até chegar ao nível da rocha para embutimento de mais 5 metros dentro do maciço.
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Do ponto de vista turístico, o arquiteto entende que será uma nova atração para a cidade. Balneário Camboriú, que já é conhecida pelos maiores prédios da América Latina e os veículos de luxo, passará a contar com o maior prédio residencial do mundo.
“Eu fiz uma pesquisa (sobre turismo), não é muito recente, então nem tínhamos essa visibilidade, mas já aparecia (Balneário Camboriú). A gente perguntava aos turistas qual era a motivação deles e muitos deles vinham para Balneário Camboriú para verem edifícios e automóveis importados”.