Parques em alta, viagens mais rápidas, áreas ociosas e estação alagada: como está o legado olímpico 8 anos depois da Rio 2016


O g1 esteve nos espaços das competições e verificou a estrutura montada para o evento. Veja como está o legado olímpico 8 anos depois da Rio 2016
Na semana em que Paris começou a sediar a Olimpíada de 2024, o g1 mostra como está, 8 anos depois, o legado dos Jogos de 2016, no Rio de Janeiro.
Locais de competições viraram parques públicos com diversas atividades, a exemplo do Radical de Deodoro, e a cidade ganhou em mobilidade – apesar de percalços e atrasos. Há ainda obras atrasadas — como a Estação Gávea do metrô, hoje alagada para evitar colapso — e áreas ociosas.
Na última terça-feira (23), a Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirmou que o Rio de Janeiro faturou R$ 99 bilhões com o evento ao longo desses 8 anos.
Locais de competições
Núcleo da Barra da Tijuca
PARQUE OLÍMPICO: a imensa esplanada hoje abriga a Cidade do Rock, nos anos de Rock in Rio, e outros shows. A grande alameda que interligava arenas ao parque virou o Parque Rita Lee, inaugurado em maio. O lugar tem controle de acesso e fica aberto ao público de terça-feira a domingo, das 6h às 22h (fecha às segundas-feiras para manutenção).
Parque Rita Lee, no Parque Olímpico
Stephanie Rodrigues/g1
Crianças se refrescam no Parque Rita Lee, no Parque Olímpico
Stephanie Rodrigues/g1
ARENAS: a do Futuro e a de Esportes Aquáticos foram desmontadas, e os módulos viraram 4 escolas da rede municipal em outros pontos da Zona Oeste do Rio. Das Arenas Cariocas, a 3 hoje abriga um colégio. Já a 1 e a 2, sob gestão do governo federal, estão ociosas — assim como o Centro de Tênis. O Centro Internacional de Transmissão também foi desmontado, com o material reaproveitado no Terminal Intermodal Gentileza.
Menina brinca ao lado de instalação no Parque Olímpico que virou escola pública
Stephanie Rodrigues/g1
PISCINAS: o Parque Aquático Maria Lenk, onde foram disputadas as provas de natação, está sob concessão do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que ali montou seu Centro de Treinamento. Do Estádio Aquático — sede dos saltos e do polo, por exemplo —, 3 das 4 piscinas foram doadas para as cidades de Guaratinguetá (SP), Salvador (BA) e Manaus (AM). A piscina principal será instalada no Parque Oeste, que a Prefeitura do Rio está construindo em Inhoaíba.
CAMPO DE GOLFE: o espaço é público, e qualquer um pode treinar lá, mediante uma mensalidade que gira de R$ 450 a R$ 800. O campo oferece 3 aulas gratuitas experimentais para interessados. A área sediou campeonatos de golfe e mantém projetos sociais para alunos da rede pública e para PCDs.
Campo Olímpico de Golfe
Sthepanie Rodrigues/g1
Núcleo de Deodoro
PARQUE RADICAL: sede da mountain bike, canoagem slalom e BMX nos Jogos, o espaço é um polo de várias atividades gratuitas e funciona de terça a domingo, das 8h às 17h — a piscina abre só aos fins de semana. A pista de mountain bike tem reabertura prevista para o dia 28 de julho, após reformas. Já a de BMX está fechada para restauro. Atualmente, são 2,8 mil alunos matriculados no parque.
Núcleo dos estádios
MARACANÃ: o estádio, que recebeu partidas de futebol e as cerimônias de abertura e de encerramento, é gerido pelo consórcio Fla-Flu desde 2019. A concessão, que inclui o Maracanãzinho, foi renovada no mês passado. O documento entregue pela dupla no processo de licitação prevê investimentos de R$ 393 milhões em obras e manutenção das instalações nos próximos 20 anos. Eventos recentes foram a final da Conmebol Libertadores de 2023 e uma etapa da Liga das Nações de Vôlei.
ENGENHÃO: o então Estádio Olímpico João Havelange, hoje Nilton Santos, é gerido pelo Botafogo desde a inauguração, em 2007. Em 2021, o clube assinou um contrato de prorrogação da concessão até 2051 e passou a defender a retirada da pista de atletismo — onde correu Usain Bolt — a fim de rebaixar o nível do gramado e aumentar a capacidade de público, hoje em 45 mil pessoas. O projeto depende, porém, ou de uma reforma do Célio de Barros, tradicional local do atletismo, ou da instalação de um novo centro. Hoje, o Niltão recebe jogos do Glorioso e shows, como o de Taylor Swift.
Infraestrutura de apoio
VILA DOS ATLETAS: rebatizado como Ilha Pura, o local onde os atletas moraram durante as Olímpiadas no Rio, do lado do Riocentro, teve apartamentos postos à venda, mas está ocioso: dos 3,6 mil apartamentos ocupados em 2016, 1,4 mil foram colocados à venda, e 1,2 mil, comprados. A imobiliária Carvalho Hosken disse que a Covid atrasou os planos de obras de ampliação, mas que o mercado não suportaria que todos os apartamentos fossem colocados à venda ao mesmo tempo. Uma parte do complexo é pública e tem pistas de corridas, brinquedos para crianças e áreas de hidratação.
Vila dos Atletas ainda está ociosa
Sthepanie Rodrigues/g1
PORTO MARAVILHA: a área que mais se transformou para os Jogos virou um polo cultural e turístico. O Elevado da Perimetral – implodido – e sua vizinhança decadente deram lugar a restaurantes, bares e rodas de samba, além dos consagrados Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio, AquaRio e a roda-gigante Yup Star. Há outras iniciativas, como o Porto Maravalley, que reunirá institutos de educação — o Impa Tech já se instalou. Mas a promessa de tornar o Porto um local residencial ainda é uma aposta. Só 47.846 cariocas habitavam a Zona Portuária segundo o Censo 2022 do IBGE — menos que Sepetiba. De acordo com a Caixa Econômica Federal, desde 2021, já foram lançadas mais de 8 mil unidades residenciais. Nas contas da prefeitura, quase 90% das unidades foram negociadas. A expectativa do município é chegar a 100 mil residentes até 2031.
Praça Mauá foi totalmente remodelada
Sthepanie Rodrigues/g1
Infraestrutura de transportes
VLT
O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), chamado por muitos de bonde moderno, foi inaugurado às vésperas da Olimpíada, em junho de 2016, com 1 linha. Hoje são 4 linhas e 29 estações, mas o sistema ainda está longe de atingir a previsão de passageiros — são 110 mil viajantes por dia, menos da metade da expectativa de 250 mil.
VLT no novo Terminal Intermodal Gentileza
Sthepanie Rodrigues/g1
Metrô
A obra da Linha 4 do metrô no Rio de Janeiro começou em 2010 e foi entregue no dia 30 de julho de 2016, quando os trens subterrâneos enfim chegaram à Barra da Tijuca. Mas a Estação Gávea nunca foi inaugurada: os trabalhos estão parados desde 2015 por suspeita de superfaturamento. De acordo com o Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ), o prejuízo até 2021 chegava a R$ 3,7 bilhões.
Área de obra do metrô na Gávea
Stephanie Rodrigues/g1
Uma plataforma já está assentada, mas 2 buracos verticais de 50 metros de profundidade escavados precisaram ser inundados por risco de desabamento.
A quantidade de água no local é suficiente para encher 14 piscinas olímpicas. Ao g1, a Secretaria Estadual de Transporte e Mobilidade Urbana informou que a proposta do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para a retomada das obras da Estação Gávea está em análise pelo TCE.
Em maio, o secretário Estadual de Transportes, Washington Reis, afirmou que espera inaugurar o local em junho de 2026 — mas será mais um “puxadinho” do que uma extensão. Quem estiver em Botafogo e quiser ir até a Gávea terá de seguir até São Conrado e voltar, pois não haverá ligação direta.
Sem R$ 900 milhões para concluir a Estação Gávea do metrô, governo vai investir R$ 70 milhões apenas para reforço estrutural de área alagada
RJ1
BRT
Para as Olimpíadas, foram prometidos — e entregues — 3 corredores: Transoeste, Transolímpica e Transcarioca. O 4º, o Transbrasil, previsto para 2017, só ficou pronto este ano.
O BRT é composto por faixas exclusivas para ônibus com estações parecidas com as do metrô, em que o passageiro paga antes de embarcar.
O sistema passou por problemas: superlotação, atrasos e mau estado dos ônibus eram queixas frequentes. Já as viações culpavam a má qualidade do asfalto pelas constantes quebras.
A frota foi substituída, parte das pistas, refeita, e estações, ampliadas.
Melhorias viárias
ELEVADO DO JOÁ: o tablado entre São Conrado e Barra foi duplicado, com a promessa de melhorar em 35% o fluxo de veículos.
CICLOVIA TIM MAIA: beira a Av. Niemeyer e o Joá e foi inaugurada em fevereiro de 2016, mas teve problemas. No dia 21 de abril de 2016, um trecho da ciclovia desabou. Duas pessoas morreram. Em 2020, 15 pessoas foram condenadas, mas, em junho do ano passado, uma decisão da 6ª Câmara Criminal do Rio de Janeiro decidiu pela absolvição dos acusados. Ao longo dos anos, a ciclovia apresentou vários momentos de fechamento e de tentativas de recuperação. Hoje, o setor Joá está aberto.
ACESSO AO PARQUE OLÍMPICO: foram realizadas obras de ampliação na região da Avenida Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca, para a ampliação da capacidade de tráfego, melhora da iluminação e da capacidade de drenagem. A via é usada como acesso ao Parque Olímpico, principal local de competições.
ACESSO AO ENGENHÃO: a região do Estádio Olímpico João Havelange, hoje Estádio Nilton Santos, também recebeu obras no valor de R$ 51,9 milhões para melhorar a circulação.
Meio ambiente
Baía de Guanabara
A meta proposta pelo projeto olímpico brasileiro era despoluir pelo menos 80% da Baía de Guanabara. Contudo, esse número nunca foi alcançado, nem de perto. Na verdade, 5 anos depois dos Jogos do Rio, o g1 e o RJTV mostraram que a qualidade da água havia piorado e que as promessas nunca foram cumpridas.
O Programa de Despoluição da Baía da Guanabara (PDBG) foi lançado em 1994. Em 2009, quando o Rio foi escolhido como sede olímpica, o projeto original já tinha sido paralisado havia dois anos. Na ocasião, o governo do estado teve problemas para construir a rede coletora de esgoto que ligaria moradias às novas estações de tratamento.
A falta de tratamento não chegou a impedir as competições de vela da Rio 2016, mas muitos atletas reclamaram da presença de lixo na água.
Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2022, as estações de tratamento de esgoto que integravam o PDBG funcionavam apenas com 33,98% da sua capacidade inicial.
A situação só começou a mudar em 2021, com o leilão da Cedae. Na ocasião, parte do dinheiro arrecadado com a venda da empresa teria que ser obrigatoriamente investido em projetos de despoluição. Só para a Baía de Guanabara, foram carimbados R$ 2,6 bilhões.
Dados do Inea, responsável por monitorar o espelho d’água da Baia de Guanabara, mostram que a qualidade da água vem evoluindo desde 2020, em todos os pontos de coleta na Baía. Em 2023, o órgão observou uma melhora de 43% em relação ao mesmo período em 2020 e 2021.
As praias de Botafogo e Flamengo, na Zona Sul, são exemplos e mostram que o trabalho realizado nos últimos anos já pode ser notado pelos banhistas. A Praia da Moreninha, na Ilha de Paquetá, também é um exemplo da melhora da qualidade da água por conta dos investimentos recentes.
Com a água mais limpa, a Baía voltou a receber muitas espécies de animais marinhos. Em um mergulho feito com biólogos do Instituto Mar Urbano (IMU) em junho, o RJ1 flagrou bagre, peixe-gato, peixe-frade e até tartarugas.
O biólogo marinho Ricardo Gomes, que explora a área há 30 anos, disse que nunca tinha visto tantas espécies e uma água tão clara.
Tartaruga resiste à poluição na Baía de Guanabara
Reprodução/TV Globo
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