A realidade e os desafios da paternidade adotiva solo 

O sonho de ser pai, apesar de pouco falado e normalizado, é um sentimento que acomete muitos homens. A maneira que muitos encontram para realizar o feito é por meio da adoção, assim como muitos casais homoafetivos. Mas, a adoção solo também é possível, e pode trazer desafios diferentes. 

Neste domingo (11), data em que se celebra o Dia dos Pais, o LeiaJá conversou com o psicólogo Dénison Araújo, pai adotivo solo, que compartilhou um pouco de suas vivências. 

Expectativa X Realidade 

A princípio, o sonho veio há mais de dez anos, quando Dénison fez o cadastro no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. À época, ele já sabia que queria ser pai, mesmo que não conseguisse muito bem explicar as razões. “Porque eu quero ter uma família grande, eu quero ter festa. Eu quero ter vídeo, eu quero participar de jogos de escola. Eu quero fazer torcida organizada pelo meu filho”, ele lista. No entanto, mal sabia ele os desafios que enfrentaria na adoção se deu filho mais velho, João, agora com 8 anos de idade. 

O pai relatou um pouco do nascimento de seu filho, cuja mãe biológica morreu de forma violenta, e ele acabou nascendo de forma prematura. Dénison não sabe ao certo como era a vida da mulher, já que ele recebeu o chamado da assistência social seis meses após o nascimento do bebê. “Quando eu sou chamado, João veio para mim com sarna, com sífilis (contraída no parto), com perna quebrada, com braço quebrado (…), aí eu tive que parar três anos de trabalhar para poder cuidar dessa criança”, conta. 

Ser pai pode ser o sonho de muitas pessoas, como acontece com quem escolhe ser pai adotivo solo, apesar das dificuldades
João, ainda pequeno. Foto: Cortesia/Arquivo pessoal

“Aí aquela história ‘você abriu mão da sua vida para cuidar?’ Não, eu fui atrás do meu sonho, que era ser pai. E se o preço era esse, paciência. Vamos pagar o preço”. Prestes a completar 9 anos, na próxima semana, João é considerado o “líder” de seu grupo de amigos. “Ele é conhecido como João Vitor ‘gota serena’, porque aqui em casa vive cheio de menino, ele é líder, ele é povão”, conta o pai, com orgulho na voz. 

“Faria de novo porque o meu filho é uma coisa linda, linda, linda. Quando ele fez [a formatura do] ABC, ele foi orador da turma, eu alfabetizei meu filho, com três anos de idade, meu filho já falava tudo, sabia as quatro operações”, compartilha Dénison. 

Ser pai de mais de um filho 

O sonho da paternidade de Dénison, no entanto, não é tão modesto assim, já que o que almeja é ser pai de três. Tendo João como o mais velho, por enquanto, ele contou com felicidade que vai receber em sua casa seu novo filho, Matheus, de 5 anos, que ele conheceu no dia em que fizemos a entrevista. Diferente de João, que Dénison pegou ainda bebê no hospital, Matheus vem de um abrigo, onde compartilha os espaços com outras crianças e adolescentes. “Mateus vem de um quadro e violência, típico da criança que é abandonada”, resume o novo pai. 

Por outro lado, a notícia da chegada de Matheus não é estranha para João, já que o pai faz questão de manter o diálogo como peça fundamental na criação do filho. “Desde sempre João soube que é adotado, desde que ele é bebê. A mamãe de João tá no céu, João sabe disso desde sempre. Esse é um assunto tratado por mim, por todo mundo que está a minha volta, de forma muito natural. Então, João conversa com qualquer pessoa falando o que é adoção, como é que se faz. Então, eu preparo meu filho para tudo”, explica o psicólogo. 

“Eu conversei, e João, toda noite, a gente reza junto para dormir. ‘Papai do céu, que venha o irmãozinho, depois venha a minha irmãzinha’”, diz Dénison, que afirma que educa seu filho para que ele não tenha limitações de convivência. 

Desafios da parentalidade solo 

Dénison conta, ainda, que a paternidade solo não é fácil, principalmente por ele não ter tido tanto apoio da família no começo. Nos primeiros anos de vida de seu filho, por exemplo, sua família não aceitou a adoção. “Eu não tive apoio de família, mas eu tive apoio de amigos, que durante a minha vida, viraram minha família. Mas, dos meus parentes não”, diz. 

Ser pai pode ser o sonho de muitas pessoas, como acontece com quem escolhe ser pai adotivo solo, apesar das dificuldades
Foto: Cortesia/Arquivo pessoal

Apesar do processo vivido, hoje em dia os familiares veem em João um membro natural da família, e assim devem ver Matheus, em breve. Dénison também conta que passa por outros desafios diários, como no preenchimento de um simples formulário para João, e é obrigatório constar o nome da mãe. Ele chegou a ter dificuldade para matricular o filho na natação porque alegaram que a certidão de nascimento da criança era falsificada, já que só constava o nome do pai. 

No entanto, Dénison não perde a esperança e a certeza de que é a realização de um sonho antigo que ele conquista todos os dias. “João me ensinou primeiro a ser uma pessoa melhor. Eu sou uma pessoa totalmente melhor do que eu era. Segundo, eu aprendi a ser bem mais persistente no que eu queria. Assim, eu queria um filho. Pronto, eu briguei com o mundo e tive o filho. 

Ser pai pode ser o sonho de muitas pessoas, como acontece com quem escolhe ser pai adotivo solo, apesar das dificuldades
Já crescido, o menino tem uma cachorrinha, Lua. Foto: Cortesia/Arquivo pessoal

“Eu sei o que eu quero, João me diz isso todo dia, porque todo dia eu acordo para poder ter comida em casa, para poder ver ele na aula de inglês. Para poder ver na natação, para poder estar presente na aula de futebol. Para acompanhar ele na escola, verificar o desempenho escolar”, finaliza o pai, listando o que ele sempre quis fazer. 

Processo de adoção no Brasil 

Mesmo não sendo dos mais simples, o processo de adoção possui passos claros para todos que buscam a parentalidade. No Brasil, por exemplo, existem 4752 crianças disponíveis para adoção, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Os números são bem maiores em relação aos pretendentes à adoção, totalizando 35.960. Por outro lado, 32.822 crianças já passaram pela adoção e vivem em família, até a última atualização do CNJ. 

O Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) contabiliza dados de cada estado, e aponta que em Pernambuco há 154 crianças e adolescentes na fila para adoção, enquanto 63 estão na busca ativa. 

O CNJ também disponibiliza um guia completo com informações sobre como realizar o cadastro e entrar no SNA. 

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