Artista plástico autodidata conta como superou racismo para chegar aos 50 anos de carreira: ‘Ninguém me via’


Em entrevista ao g1, Macalé falou sobre superação e importância de obras que expressam lutas e esperanças. Ao realçar história afro-brasileira, ele se tornou referência cultural. g1 entrevista artista plástico ‘Macalé’ no Dia da Consciência Negra
Jaime Domingos Cruz, mais conhecido como Macalé, é um nome de destaque na arte brasileira. O artista autodidata transformou desafios pessoais em inspiração para obras marcantes, como a série “O Sol Nasceu para Todos”. A produção celebra a moradia digna e a esperança, temas que dialogam com sua vivência e resistência.
Nascido em Orlândia (SP), Macalé enfrentou preconceitos desde cedo, mas encontrou na arte um caminho de expressão e transformação. Hoje, ao celebrar 50 anos de carreira, ele é referência cultural, levando adiante a valorização da história e cultura afro-brasileira.
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‘Macalé’ em seu ateliê em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/Vinícius Barros
No Sesc Ribeirão Preto (SP), oficinas incentivaram o público a criar obras inspiradas no artista. Além disso, exposições no Museu de Arte de Ribeirão (MARP) e no Museu Casa de Portinari em Brodowski (SP) também celebraram sua contribuição para a cultura brasileira.
Essas iniciativas reforçam a importância do legado artístico e cultural do homenageado, permitindo que o público se envolvesse ativamente com sua obra e sua influência.
Em entrevista ao g1, Macalé abriu o coração sobre sua trajetória e o impacto de seu trabalho, abordando temas como o racismo e a superação.
Veja abaixo trechos dessa conversa, em que o ator compartilha o olhar sobre a arte, a cultura e o Brasil, especialmente em relação à consciência negra e seu legado.
Exposição de abertura no Marp estreada na sexta-feira (22) em Ribeirão Preto, SP
Divulgação
🌞 ‘O Sol Nasceu para Todos’: luta e esperança
O artista compartilhou o que inspirou sua criação da série “O sol nasceu para todos”, uma das mais famosas da carreira.
“O ‘Sol Nasceu para Todos’ foi uma criação assim porque eu nunca tive uma casa para morar, nem a minha família. Então, eu comprei um terreninho e eu e minha esposa começamos a construir essa casa. E aí veio a inspiração para colocar ‘O Sol Nasceu para Todos’ em todas as minhas obras, uma criação que eu tenho de casarello.”
Com técnicas aprendidas de forma autodidata, Macalé transformou vivências pessoais em obras de profundo impacto social e cultural.
Da série ‘O sol nasceu para todos’ de Macalé
Reprodução/Carol Koff
✊🏿 Arte como força contra o racismo
Quando questionado sobre a relação entre arte e combate ao racismo, Macalé foi direto.
“Bom, para mim, eu era um cara invisível, ninguém me via. E a arte me trouxe para frente. Hoje, as pessoas me conhecem e me respeitam.”
Desde cedo, ele conta que enfrentou preconceitos e usou a criatividade como resposta.
“Eu já trabalhei em vários empregos. Eu trabalhei em corte de cana, na fazenda eu fiz quase todos os trabalhos. Eu fiz trabalho de decoração, trabalho em esculturas, pintura, tudo que aprendi sozinho. E a arte me ajudou e está ajudando a ser reconhecido.”
Da série ‘O sol nasceu para todos’ de Macalé
Divulgação
🎨 Inspiração para as novas gerações
Macalé compartilhou a dificuldade de ser um artista negro e as barreiras que enfrentou em sua trajetória. Ele também revelou como sua jornada artística começou de forma simples, ao lado da filha Márcia.
“Sim, é muito difícil. Um artista negro, pobre financeiramente, mas muito rica a minha criação. Me despertou foi quando a Márcia tinha 4 aninhos, mais ou menos, eu comecei a brincar com ela com os restos de tinta que eu ganhei, 5 tubinhos de tinta óleo e 1 pincel. Aí eu comecei a brincar com ela, fazer, eu também não sabia. Praticamente, nunca trabalhei com tinta óleo. Os meus trabalhos são inteirinho de papelão, não tem nada comparado.”
Da série ‘Multidões’ de Macalé
Reprodução/Carol Koff
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✋🏿 ‘Acabar com esse racismo’
Sobre a mensagem que deixa para os jovens que buscam inspiração em sua história, Macalé disse desejar que todos tenham oportunidades.
“Para os jovens, eu desejo que todos tenham um lugar no sol e que todos estudem bastante, porque só o estudo, a educação pode arrumar um lugar no sol para eles.”
Quadro da série ‘O sol nasceu para todos’ em homenagem ao artista por crianças de uma escola
Divulgação
Por fim, o artista reforçou a importância do Dia da Consciência Negra, celebrado na última quarta-feira (20).
“O Dia da Consciência Negra, eu gostaria que fosse um dia que todo mundo fosse feliz e acabar com esse racismo que é velado no Brasil”, completou.
Exposição no Galpão de Arte do Museu Casa de Portinari em Brodowski, SP
Reprodução/Vanderlei de Souza Jr
*Sob a supervisão de Helio Carvalho
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