Camboriú em expansão: como o crescimento desordenado afeta o futuro do município

Localizada a 90 quilômetros da capital Florianópolis, Camboriú, com seus aproximadamente 62 mil habitantes, em 2010, não esperava ser a cidade catarinense com maior salto populacional, entre as cidades com mais de 100 mil habitantes, nos 12 anos seguintes. 

Segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2022, a população era de 103 mil habitantes, um aumento de 79,87% em relação a 2010. 

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Diversos fatores contribuíram para o crescimento do antigo vilarejo. O litoral Catarinense e a valorização imobiliária da cidade vizinha, Balneário Camboriú, contribuíram para o fato. 

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Para o arquiteto Juliano Darós Amboni, o litoral de Santa Catarina está na moda. Com isso, um número maior de pessoas é atraído para a região e, consequentemente, áreas que não estavam previstas para serem ocupadas, como áreas de preservação, acabam sendo comercializadas, devido, principalmente, ao baixo custo. 

Porém, o professor não se limita à ocupação de pessoas carentes. A valorização da região, como é o caso de Balneário Camboriú, é vista pelos moradores antigos como uma forma de lucrar com a venda de imóveis. “A população que vivia ali ao longo do tempo se sentiu seduzida por essa valorização e acabou comercializando as próprias moradias”. 

Assim, essa mesma população precisa se estabelecer em um local próximo, pois, com o valor da venda, não é possível adquirir outro imóvel na mesma área.

Entre as consequências de um crescimento desordenado estão, segundo a engenheira ambiental Letícia Pinto Rabelo, a ocupação de áreas de risco e a falta de água. 

Ocupação de risco

Letícia explica que o crescimento desordenado pode acarretar, entre outros problemas, a ocupação de áreas de risco, sendo a maioria em regiões de encostas – que sofrem a ameaça de deslizamento – ou áreas alagáveis. 

O arquiteto Francisco Antônio Carneiro, inclusive, comenta que grande parte dos problemas ambientais que ocorrem na região são decorrentes da ocupação desordenada em áreas ambientalmente frágeis. 

Para ambos os profissionais, o quadro se agrava devido ao momento vivenciado nos dias atuais, em que eventos extremos, como as chuvas, ocorrem com mais frequência. 

“Isso gera um conjunto de problemas, principalmente no momento que estamos vivendo uma emergência climática. Em que você tem vários eventos extremos cada vez mais frequentes ocorrendo nessas áreas e expondo, principalmente, a população mais pobre”, comentou Carneiro. 

INTERIOR DO LOTEAMENTO DO JARDIM EUROPA, EM CAMBORIÚ. foto: gerson felippi/rádio menina

Além do risco às famílias que ocupam essas áreas, o crescimento desordenado intensifica o desmatamento. A engenheira ambiental esclarece que a ocupação desses locais afeta a biodiversidade de diversas maneiras. 

Segundo ela, a Bacia em Camboriú ainda possui uma área verde preservada, porém, no decorrer dos anos, essa área está cada vez mais extinta. “Essas áreas estão cada vez mais sendo ocupadas, porque as áreas urbanas do município de Camboriú não dão conta dessa população crescente e acaba ocupando essas áreas mais rurais, que seriam áreas mais preservadas”. 

Falta de água

Com a perda da biodiversidade, consequentemente, está a piora na qualidade da água. Isso porque o ecossistema é responsável pela filtração e regulação.

Além da piora na água, Letícia informa que o rio Camboriú, que abastece Camboriú e Balneário Camboriú, está há anos captando acima da sua capacidade ecológica mínima. 

Para ela, o rio está sendo sufocado e, com a população crescendo, a tendência é que gere um colapso e não tenha água suficiente no futuro. 

“Isso tem que ser dado uma atenção muito grande e o cuidado quanto a isso tem que ser grande, porque é só um rio e uma população que só cresce. Como a gente vai balancear esse recurso, como a gente vai conseguir disponibilizar esse recurso?”, questiona.

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Infraestrutura

Atualmente, a infraestrutura de Camboriú está comprometida por uma avenida principal denominada Santa Catarina, que liga a cidade ao município vizinho Balneário Camboriú e, consequentemente, a BR-101 e demais localidades. 

A engenheira ambiental expõe que, apesar do carro surgir como um ferramenta que aproxima os lugares, as distâncias para os moradores de Camboriú estão cada vez maiores, devido ao tempo gasto nos deslocamentos. 

“O uso intenso de carros… um crescimento da frota de veículos que a cidade não dá conta. Então cada vez mais existe o problema de trânsito, cada vez mais a distância”. 

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avenida santa catarina. foto: maria macedo/rádio menina

Decreto suspende aprovação de novos loteamentos 

Desde 2018, um decreto assinado pelo ex-prefeito Élcio Rogério Kuhnen (MDB) suspende a análise e aprovação de novos loteamentos no município. Para ele, a decisão foi tomada pensando no crescimento sustentável da cidade. 

De acordo com o ex-prefeito, o plano diretor do município não estava sendo respeitado o que, consequentemente, criava um crescimento desordenado e muitos loteamentos aprovados sem um planejamento de desenvolvimento econômico e sustentável. 

A rizicultura e outras áreas começaram a virar loteamento. Isso traria prejuízo para a área urbana do município, principalmente na parte de cheias e também no crescimento desordenado. Além disso, muitos loteamentos com preços abaixo do mercado da região trazia problemas sociais para o município”.

Mesmo com a mudança de governo, o decreto foi renovado para 2025, agora sob a gestão do prefeito Leonel Pavan (PSD).

Para o arquiteto Amboni, o decreto trata-se de uma medida emergencial para frear o crescimento desordenado. Segundo ele, o decreto, quando foi estipulado, estava previsto para durar um ano e agora, sete anos depois, ainda faz-se necessário devido à falta de planejamento. 

“É uma tentativa, na minha opinião, de segurar. Mas é uma maneira meio desesperada, por falta de um plano que acompanhasse ou pela velocidade desse crescimento”. 

A engenheira ambiental corrobora a opinião do arquiteto. Para ela, embora a medida seja importante, ainda existe a ocupação desordenada, que, em muitos casos, é difícil de fiscalizar. 

“O que estava acontecendo era a aprovação de muitos loteamentos e isso possibilitando, então, uma ocupação do solo grande e sem a infraestrutura adequada. Então (o decreto) é uma maneira de conter (o crescimento)”. 

Bons exemplos e soluções 

Questionados sobre cidades que são exemplo de um crescimento ordenado, os dois arquitetos concordaram. Para eles, Curitiba, capital do Paraná, é uma cidade que, mesmo com um crescimento populacional, conseguiu implementar um transporte de qualidade, além de parques e áreas verdes na área urbana do município. 

Carneiro, apesar de acreditar que a maior parte das cidades brasileiras acompanham o modelo presenciado em Camboriú, expõe que Curitiba pode ser referência. Na cidade, o parque Barigui ocupa 140 hectares de quatro bairros e é utilizado como forma de armazenar a água da chuva, evitando que enchentes atinjam os moradores. 

parque barigui em curitiba. foto: reprodução/prefeitura de curitiba

“Ao localizar os parques naturais de Curitiba nas áreas mais baixas, a cidade, digamos que dialogou com a natureza. Adaptou-se a eventos extremos e hoje, quando as enchentes ocorrem nessas áreas, elas não criam tantos conflitos. Tantos danos para a cidade”.

Em relação à infraestrutura, o arquiteto Amboni disse que o município criou nos anos 70 um plano diretor “radical”. Segundo Amboni, o planejamento foi baseado na infraestrutura da cidade. 

“Eu costumo dizer que foi um trabalho tão bom e exemplar que as gestões que seguiram, ou que seguem, mesmo sendo de ideologias ou partidos diferentes, mantém a ideia geral. O pensamento foi absorvido pela população”.

A cidade também adotou o modelo de canaletas exclusivas para o transporte público, dando agilidade a este serviço. 

Para Carneiro, uma solução para o crescimento ordenado é a criação de um consórcio entre Balneário Camboriú e Camboriú para áreas como saneamento básico e transporte.

“Isso significa reorganizar os métodos de governança, de modo a adaptar as estruturas. Todas as estruturas políticas que hoje estão isoladas nos municípios deveriam se tornar estruturas por uma tomada de decisão conjunta. Não pode ser mais cada município tentando planejar e fazer a sua gestão municipal. Tem que ser multiescalar. Na verdade, o que é necessário é criar uma estratégia regionalizada de planejamento”. 


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