Professor explica histórico de alagamentos no Recife e aponta possíveis soluções

O Recife e sua região metropolitana enfrentam, há mais de 48 horas, a chegada de chuvas intensas em decorrência da atuação de dois sistemas climáticos. Segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), os fenômenos Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e o Vórtice Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN) são responsáveis pela alta precipitação, que também afeta a região da Mata pernambucana. Os temporais vêm causando transtornos, alagamentos, acidentes e até mortes nas cidades mais afetadas.

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que a capital de Pernambuco é a 16ª cidade do mundo mais vulnerável às mudanças climáticas. Considerada por alguns a “Veneza brasileira”, o Recife é famoso por seus rios e também por estar cercado pelo mar. Essa configuração geográfica está totalmente ligada à história da cidade com as chuvas intensas, alagamentos e enchentes.

Desenvolvimento urbano irregular

O professor e geógrafo Alencar de Sá explica que a relação do Recife com esses eventos é antiga. Situada numa planície fluviomarinha (rio e mar), a capital está a apenas quatro metros acima do nível do mar e registra problemas com enchentes “desde os primórdios da fundação, no período holandês”.

“O crescimento sem planejamento levou a cidade a aterrar seus manguezais, canalizar córregos e rios, impedindo o fluxo natural das águas. Somado a isso, um sistema de micro e macro drenagem antigo e sem manutenção é agravado com o descarte irregular de lixo, que entope canaletas e tubulações”, elucida Sá.

O problema do alagamento se agrava pelo assoreamento dos rios, que é o acúmulo de sedimentos e lixo no fundo e nos leitos dos cursos d’água. Esse processo se intensifica pelo desmatamento das matas ciliares, que protegem as margens dos rios, e pelo lixo jogado nos canais fluviais, impedindo o escoamento das águas da chuva.

Alencar destaca ainda que a quantidade de chuva que a cidade do Recife recebeu entre a madrugada e a manhã do dia 5 de fevereiro de 2025 traria transtornos até mesmo em cidades bem planejadas do ponto de vista de drenagem e escoamento das águas.

“Sistemas climáticos como a Zona de Convergência Intertropical e o Vórtice Ciclônicos de Altos Níveis têm trazido transtornos, já entre janeiro e fevereiro de 2025. O acumulado nesses primeiros dois meses do ano já supera a média esperada, tendo como referência os últimos 20 anos. As mudanças climáticas têm promovido chuvas cada vez mais intensas em poucas horas, e essa realidade se repete com frequência na última década”, afirma.

Quais as soluções?

De acordo com o geógrafo, a situação da cidade já melhorou bastante nas últimas décadas. O especialista aponta que os alagamentos, atualmente, são mais pontuais e ocorrem durante os dias de chuva. Após poucas horas de estiagem, as ruas costumam voltar à normalidade. No século passado, o medo de enchentes do Capibaribe era constante.

“Recebendo muita água durante o seu percurso até o Recife, e chegando na cidade com seu leito estreito e assoreado, o rio Capibaribe transbordava, danificava pontes e inundava o centro urbano por dias. Uma das maiores cheias foi a de 1975, em que, segundo jornais da época, a cidade ficou 3 dias inundada com 70% debaixo de água. […] As cheias do Capibaribe foram controladas graças à construção de barragens de contenção de Tapacurá e Carpina”, explica o professor.

Para o especialista, outras medidas estruturais e educativas podem ajudar a reduzir a frequência dos alagamentos ainda mais. “A solução para os problemas da cidade em relação aos alagamentos vai muito além da troca de tubulações. Vamos precisar de obras estruturantes para o controle dos níveis de água dos canais, e obviamente de uma forte educação ambiental para evitar o descarte de lixo, a retirada das matas ciliares que favorecem o assoreamento e evitam o transbordamento dos cursos de água”, conclui o professor.

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